A vaidade, com seu perfume de má qualidade, torna-se um dos
modelos mais caricatos da boçalidade humana. Não no sentido de uma ausência
total de inteligência, mas na inabilidade de percebermos além da superfície
petulante do retrato fugidio com que o nosso espelho nos endromina. Somos
vulneráveis criaturas de vaidade, amamentadas pelo rastreio infindável da
incessante validação, como se o valor procurado fosse atestado pelos olhos
alheios, por essa cínica simpatia de uma convivência incerta e efémera.
A vaidade é, porventura, o molde mais leve de tolice que o
ser humano não só cultiva, mas também nela resvala. Ela, essa vaidade,
sugere-nos que o que somos pode ser veiculado através de indícios de
relevância, em corpos cinzelados ou em aparências bem retocadas. Somos
vaidosos, talvez até ridículos, acreditando que, ao procurar sermos nós mesmos,
somos, na verdade, eternos mascarados, descurando a verdade de que nada do que
é superficial perdura. A vaidade é um delírio que nos vicia e afasta da essência
do ser, fazendo-nos crer que a exterioridade é, afinal, e de mau fado, tudo o
que somos.
Esse hábito indiciador da idiotice humana manifesta-se de várias formas, desde a obsessão pelo sucesso social até à permanente necessidade de aprovação em múltiplos simulacros dos dias de hoje. Vemos multidões presas a essa conspiração, como bonecos articulados por um sistema que se vai alimentando de suas próprias intranquilidades. A evidência da vaidade é transitiva, mas a cegueira que ela impõe é entranhável, absorvendo hábeis energias na busca por algo que não tem valor real. E é nessa fútil caminhada que se encontra a axiomática estupidez: a doutrina de que a aparência engana a autenticidade, e que a fama e o reconhecimento podem neutralizar a verdade de si próprio, enquanto convencem a alma de que encontrou paz interior.
A vaidade faz-nos escravos de espelhos que, simpáticos,
nunca nos refletem a verdadeira mentira. O sarcástico é que, ao nos perdermos
nesse jogo fútil, acabamos por abandonar aquilo que de mais precioso possuímos:
a autêntica essência, que não depende de olhares externos para ser reconhecida.
E, no entanto, assim sobrevivemos atados à ilusão, como se a aprovação dos
outros fosse a única referência para afirmar nossa validade enquanto seres
humanos.
Em conclusão, poder-se-ia dizer que a vaidade é uma máscara que a idiotice humana escolhe usar, ignorando que a verdadeira beleza e grandeza nunca serão encontradas no reflexo de um espelho, físico ou mesmo social, mas sim no interior que, muitas vezes, deixamos de explorar por temer a verdade e a coragem de a aceitar. Em síntese, terminarei servindo-me de um conselho amigo: lembrem-se sempre que "quanto mais se busca brilho, mais se perde a verdadeira luz".
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