A vida humana é, e sempre foi, um palco onde o desatino se apresenta, ora como razão, ora como irracionalidade. Em busca de equilíbrios, a razão tenta alinhar-se com a realidade, mas, simultaneamente, a vida não abandona o vício, a insensatez e o insuportável sofrimento. Este conflito entre razão e instinto resulta numa inquietação constante que, em vez de oferecer a clareza, nos mergulha na incerteza e no desconforto.
A irracionalidade, presente no nosso comportamento, torna-se
uma exaltação do que não conseguimos compreender. Desvincula-se da lógica e nos
arrasta para uma experiência de vida que parece ausentar-se de qualquer
entendimento racional. Em muitas ocasiões, a razão, enquanto faculdade
intelectual e qualidade mental, perde-se nas pluralidades da existência humana.
Na essência da nossa consciência, a lucidez parece perder-se, como se o que
somos fosse algo além da compreensão racional.
Essa condição reflete, assim, uma inferioridade da capacidade humana: a insuficiência das nossas habilidades para entender e afirmar a vida em sua totalidade. Esforçamos para encontrar respostas, mas as certezas parecem sempre que escapam como se a própria consciência humana fosse limitada.
A sonolência, em sua forma figurada, é uma metáfora para a
nossa vida agitada, onde a lucidez se deixa adormecer. Vivemos em um mundo aluado,
e o que chamamos de normalidade ou senso comum nada mais é do que uma aceitação
conformada dessa nebulosidade. Quiçá, imersos em uma rotina que anestesia nossa
percepção, tornando-nos incapazes de questionar o que realmente está a ocorrer
ao nosso redor.
O excesso de uma consciência teimosa, paradoxalmente, poder-se-á
transformar numa obsessão entranhada. O peso de refletir sobre tudo, e
apressadamente, altera a nossa essência, fazendo-nos resvalar para o
imediatismo da emoção. O desejo, na sua forma mais primitiva, dissolve o que
somos, empurrando-nos para um abismo onde a razão não tem mais controle.
Porém, é preciso reconhecer que a cultura, com suas
intenções e significados, opera como uma lente através da qual, bem ou mal,
vemos o mundo. Esse mundo, tomado muitas vezes como garantido ou dado é, na
verdade, profundamente ambíguo. A cultura oferece-nos uma visão da realidade
que, ao mesmo tempo, parece transparente e distorcida, como se nos conduzisse a
uma ilusão de normalidade. E é nesse cenário que nos perguntamos: como devemos
olhar para este mundo? Como devemos lidar com a inquietação que ele nos impõe
sem fugir da ambiguidade que o acompanha? Pois é, o tempo aperta e de que
maneira nestes dias que vamos, entretanto, vivendo.
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