terça-feira, março 04, 2025

O ABSURDO EM CENA

A vida humana é, e sempre foi, um palco onde o desatino se apresenta, ora como razão, ora como irracionalidade. Em busca de equilíbrios, a razão tenta alinhar-se com a realidade, mas, simultaneamente, a vida não abandona o vício, a insensatez e o insuportável sofrimento. Este conflito entre razão e instinto resulta numa inquietação constante que, em vez de oferecer a clareza, nos mergulha na incerteza e no desconforto.

A irracionalidade, presente no nosso comportamento, torna-se uma exaltação do que não conseguimos compreender. Desvincula-se da lógica e nos arrasta para uma experiência de vida que parece ausentar-se de qualquer entendimento racional. Em muitas ocasiões, a razão, enquanto faculdade intelectual e qualidade mental, perde-se nas pluralidades da existência humana. Na essência da nossa consciência, a lucidez parece perder-se, como se o que somos fosse algo além da compreensão racional.

Essa condição reflete, assim, uma inferioridade da capacidade humana: a insuficiência das nossas habilidades para entender e afirmar a vida em sua totalidade. Esforçamos para encontrar respostas, mas as certezas parecem sempre que escapam como se a própria consciência humana fosse limitada.

A sonolência, em sua forma figurada, é uma metáfora para a nossa vida agitada, onde a lucidez se deixa adormecer. Vivemos em um mundo aluado, e o que chamamos de normalidade ou senso comum nada mais é do que uma aceitação conformada dessa nebulosidade. Quiçá, imersos em uma rotina que anestesia nossa percepção, tornando-nos incapazes de questionar o que realmente está a ocorrer ao nosso redor.

O excesso de uma consciência teimosa, paradoxalmente, poder-se-á transformar numa obsessão entranhada. O peso de refletir sobre tudo, e apressadamente, altera a nossa essência, fazendo-nos resvalar para o imediatismo da emoção. O desejo, na sua forma mais primitiva, dissolve o que somos, empurrando-nos para um abismo onde a razão não tem mais controle.

Porém, é preciso reconhecer que a cultura, com suas intenções e significados, opera como uma lente através da qual, bem ou mal, vemos o mundo. Esse mundo, tomado muitas vezes como garantido ou dado é, na verdade, profundamente ambíguo. A cultura oferece-nos uma visão da realidade que, ao mesmo tempo, parece transparente e distorcida, como se nos conduzisse a uma ilusão de normalidade. E é nesse cenário que nos perguntamos: como devemos olhar para este mundo? Como devemos lidar com a inquietação que ele nos impõe sem fugir da ambiguidade que o acompanha? Pois é, o tempo aperta e de que maneira nestes dias que vamos, entretanto, vivendo.

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