O conceito de “Armadilha Identitária”, abordado por Yascha
Mounk, como já anteriormente referi, é central na análise da dinâmica política
contemporânea, especialmente no que se refere à cultura digital. O autor
argumenta que a forma como as redes sociais e plataformas digitais orientam as
interações, as expressões e até mesmo a construção de argumentos políticos tem
gerado um impacto profundo nas identidades políticas. Em sua visão, a cultura
digital se configura como um terreno fértil para a ampliação e radicalização da
política identitária, especialmente através de ações e reações que perpetuam as
divisões sociais.
Mounk observa que as plataformas digitais oferecem espaços
onde os indivíduos são constantemente desafiados a se posicionar com base em
identidades determinadas por categorias sociais específicas. Este ambiente, por
um lado, proporciona visibilidade a grupos marginalizados e fortalece o poder
de vozes que antes estavam à margem do debate público. Por outro lado, essas
mesmas plataformas fomentam a multiplicação de bolhas de filtro culturais e
ideológicas, onde a comunicação se restringe a círculos de concordância,
intensificando o apoio à desagregação social.
Nesse contexto, o autor alerta para a ascensão de uma lógica de “nós contra eles”, onde a polarização e a divisão se acentuam a partir de conteúdos emocionais e inflamados, que geram reações de indignação e hostilidade. A superficialidade das interações nas redes sociais, aceleradas e muitas vezes impulsivas, torna impossível a construção de um espaço para a discordância construtiva, o que, por sua vez, inviabiliza o desenvolvimento de consensos democráticos genuínos. A ênfase nas identidades, em detrimento das ideias, resulta na estigmatização de posicionamentos que, em última instância, enfraquecem a convivência democrática.
Adicionalmente, Mounk sublinha que as redes sociais têm um impacto substancial na maneira como os indivíduos se percebem e se relacionam com os outros. Em um ambiente digital onde a imagem e o comportamento são essenciais, torna-se difícil alcançar uma compreensão mais profunda e autêntica do que os indivíduos realmente representam. Nesse cenário, as novas tecnologias não apenas transformam a política, mas a distorcem, tornando a política identitária mais visível, mais polarizada e, muitas vezes, alienante. Em vez de fortalecer a democracia, essa construção das identidades nas plataformas digitais mina os alicerces da coesão social, levando a uma sociedade mais fragmentada e menos disposta ao consenso criativo e à reflexão compartilhada.
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