domingo, março 23, 2025

REDES SOCIAIS, A POLÍTICA DA IDENTIDADE E A POLARIZAÇÃO NO SÉCULO XXI

O conceito de “Armadilha Identitária”, abordado por Yascha Mounk, como já anteriormente referi, é central na análise da dinâmica política contemporânea, especialmente no que se refere à cultura digital. O autor argumenta que a forma como as redes sociais e plataformas digitais orientam as interações, as expressões e até mesmo a construção de argumentos políticos tem gerado um impacto profundo nas identidades políticas. Em sua visão, a cultura digital se configura como um terreno fértil para a ampliação e radicalização da política identitária, especialmente através de ações e reações que perpetuam as divisões sociais.

Mounk observa que as plataformas digitais oferecem espaços onde os indivíduos são constantemente desafiados a se posicionar com base em identidades determinadas por categorias sociais específicas. Este ambiente, por um lado, proporciona visibilidade a grupos marginalizados e fortalece o poder de vozes que antes estavam à margem do debate público. Por outro lado, essas mesmas plataformas fomentam a multiplicação de bolhas de filtro culturais e ideológicas, onde a comunicação se restringe a círculos de concordância, intensificando o apoio à desagregação social.

Nesse contexto, o autor alerta para a ascensão de uma lógica de “nós contra eles”, onde a polarização e a divisão se acentuam a partir de conteúdos emocionais e inflamados, que geram reações de indignação e hostilidade. A superficialidade das interações nas redes sociais, aceleradas e muitas vezes impulsivas, torna impossível a construção de um espaço para a discordância construtiva, o que, por sua vez, inviabiliza o desenvolvimento de consensos democráticos genuínos. A ênfase nas identidades, em detrimento das ideias, resulta na estigmatização de posicionamentos que, em última instância, enfraquecem a convivência democrática.

Adicionalmente, Mounk sublinha que as redes sociais têm um impacto substancial na maneira como os indivíduos se percebem e se relacionam com os outros. Em um ambiente digital onde a imagem e o comportamento são essenciais, torna-se difícil alcançar uma compreensão mais profunda e autêntica do que os indivíduos realmente representam. Nesse cenário, as novas tecnologias não apenas transformam a política, mas a distorcem, tornando a política identitária mais visível, mais polarizada e, muitas vezes, alienante. Em vez de fortalecer a democracia, essa construção das identidades nas plataformas digitais mina os alicerces da coesão social, levando a uma sociedade mais fragmentada e menos disposta ao consenso criativo e à reflexão compartilhada. 

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