Pedro Tadeu, no seu livro Porque sou COMUNISTA, toca
numa ferida incómoda: a esquerda, com as suas melhores intenções, tropeça
frequentemente nos próprios pés. O wokismo é o exemplo acabado disso. Quer
abolir todas as marginalizações, e quem ousaria levantar-se contra tal
desígnio? O problema começa quando a boa intenção se transforma em catecismo e
a política em sermão.
O “politicamente correto”, em vez de abrir horizontes,
constrói trincheiras. Em vez de libertar a conversa, instala um clima de
julgamento moral onde cada palavra é suspeita e cada silêncio cúmplice.
Resultado? A esquerda deixa de ser força crítica e passa a caricatura de si
mesma. E, ironia suprema, quem esfrega as mãos de contente é a extrema-direita:
apresenta-se como “defensora da liberdade de expressão”, enquanto, com
desfaçatez, espalha medo e rancor com eficácia de mercado.
O erro mais grave é confundir a exceção com a regra, o caso
com a causa. Uma injustiça, seja real, pungente ou legítima, não deve ser
confundida com o todo da luta política. Quando a esquerda se deixa arrastar
pela ocorrência particular, afasta-se do núcleo duro, ou seja, das estruturas
que sustentam as verdadeiras opressões.
Daí a advertência certeira de Pedro Tadeu; não deitemos fora
o bebé com a água do banho. O combate às discriminações é inegociável, sempre.
Mas se for conduzido como ritual wokista, em vez de prática emancipadora, o
efeito é perverso; mais uma chupeta para o conservadorismo se entreter e, pior
ainda, mais munições para as direitas radicais, sempre bem nutridas e ávidas de
pretextos.
Eis a ironia amarga: os que sonham libertar-nos de todas as correntes podem acabar, sem o perceber, a reforçar as velhas algemas.
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