domingo, agosto 24, 2025

NÃO DEITEMOS FORA O BEBÉ COM A ÁGUA DO BANHO

Pedro Tadeu, no seu livro Porque sou COMUNISTA, toca numa ferida incómoda: a esquerda, com as suas melhores intenções, tropeça frequentemente nos próprios pés. O wokismo é o exemplo acabado disso. Quer abolir todas as marginalizações, e quem ousaria levantar-se contra tal desígnio? O problema começa quando a boa intenção se transforma em catecismo e a política em sermão.

O “politicamente correto”, em vez de abrir horizontes, constrói trincheiras. Em vez de libertar a conversa, instala um clima de julgamento moral onde cada palavra é suspeita e cada silêncio cúmplice. Resultado? A esquerda deixa de ser força crítica e passa a caricatura de si mesma. E, ironia suprema, quem esfrega as mãos de contente é a extrema-direita: apresenta-se como “defensora da liberdade de expressão”, enquanto, com desfaçatez, espalha medo e rancor com eficácia de mercado.

O erro mais grave é confundir a exceção com a regra, o caso com a causa. Uma injustiça, seja real, pungente ou legítima, não deve ser confundida com o todo da luta política. Quando a esquerda se deixa arrastar pela ocorrência particular, afasta-se do núcleo duro, ou seja, das estruturas que sustentam as verdadeiras opressões.

Daí a advertência certeira de Pedro Tadeu; não deitemos fora o bebé com a água do banho. O combate às discriminações é inegociável, sempre. Mas se for conduzido como ritual wokista, em vez de prática emancipadora, o efeito é perverso; mais uma chupeta para o conservadorismo se entreter e, pior ainda, mais munições para as direitas radicais, sempre bem nutridas e ávidas de pretextos.

Eis a ironia amarga: os que sonham libertar-nos de todas as correntes podem acabar, sem o perceber, a reforçar as velhas algemas. 

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