A palavra política nunca é neutra. Sempre que é dita, arrasta consigo memórias, disputas e sentidos em conflito. Não tem uma essência fixa: vive numa rede de significados que se cruzam, transformam e desafiam mutuamente. Falar de política é, pois, lidar com termos como democracia, poder, Estado, liberdade, povo, ideologia. Cada um deles abre novos caminhos de interpretação. A política não é um sentido puro, mas uma construção permanente, feita de debate e diferença.
É justamente aí que se revela o cinismo destas direitas
fanfarronas e extremas. Tentam bloquear a pluralidade, reduzindo a política a
slogans simplificadores, tais como “nação”, “ordem”, “identidade”, “inimigo”. Usam a
arrogância do discurso único, recusam a diversidade e embrutecem a linguagem,
ao mesmo tempo que pervertem por dentro a vitalidade democrática. Onde existe
desacordo criador, instalam uma falsa unidade. Onde há diferença, semeiam a
ideia de ameaça. Onde surge divergência, colam o rótulo de traição.
Contra esta apropriação autoritária, torna-se vital lembrar
que a política vive, em permanência, da sua condição inacabada. Não é prisão: é
abertura possível. A democracia é o regime que acolhe essa abertura,
transformando-a em espaço de criação e decisão coletiva. Quem tenta reduzir a
política a uma palavra fechada, homogénea e excludente não defende a sociedade.
Pelo contrário, destrói-a, explorando a sua neutralização ou até a sua anulação.
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