O sentido da vida é sempre uma ideia singular. Procura-se
como quem procura as chaves que já estão na mão, acreditando que só aparecem
quando a imaginação decide colaborar. Mas Yalom relembra o inverso: “o sentido
nasce do encontro com a existência real, não da fantasia”. Eis a pancada.
Afinal, a vida não nos pede uma qualquer inventividade utopista, mas apenas
suplica que não a falsifiquemos com compreensões insensatas de nós mesmos.
Ironia das ironias: passamos décadas a inventar sentidos
engenhosos enquanto a existência, tranquila, persiste em exibir-nos o evidente -
a respiração, o riso, a perda, o amigo que visita ou o disparate que nos
irrita. O sentido, esse atrevido, não está oculto; apenas nos solicita que lhe
abramos a porta sem filtros.
Talvez o segredo sério seja, afinal, este: viver com rigor suficiente para não nos esquivarmos da realidade, e com leveza e destreza para não ficarmos soterrados por ela. Entre estes dois opostos, nasce algo simples e silencioso que alguns chamam de sentido e outros, com mais humor, dizem que é apenas a vida a acontecer.
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