segunda-feira, novembro 17, 2025

A IRONIA DO EVIDENTE

O sentido da vida é sempre uma ideia singular. Procura-se como quem procura as chaves que já estão na mão, acreditando que só aparecem quando a imaginação decide colaborar. Mas Yalom relembra o inverso: “o sentido nasce do encontro com a existência real, não da fantasia”. Eis a pancada. Afinal, a vida não nos pede uma qualquer inventividade utopista, mas apenas suplica que não a falsifiquemos com compreensões insensatas de nós mesmos.

Ironia das ironias: passamos décadas a inventar sentidos engenhosos enquanto a existência, tranquila, persiste em exibir-nos o evidente - a respiração, o riso, a perda, o amigo que visita ou o disparate que nos irrita. O sentido, esse atrevido, não está oculto; apenas nos solicita que lhe abramos a porta sem filtros.

Talvez o segredo sério seja, afinal, este: viver com rigor suficiente para não nos esquivarmos da realidade, e com leveza e destreza para não ficarmos soterrados por ela. Entre estes dois opostos, nasce algo simples e silencioso que alguns chamam de sentido e outros, com mais humor, dizem que é apenas a vida a acontecer. 

Sem comentários:

Enviar um comentário