sábado, novembro 15, 2025

O MEU TEMPO, SEM PRESSA

Distraem-se, por vezes, dizendo-me que estou envelhecendo, como quem me aconchega num cobertor agradável. Sinto-me, de imediato, num pequeno quarto onde a vida se retrai. Mas logo surge a outra face: a vida vivida que me chama, me aproxima e me mostra o alcance do seu tempo, esse tempo onde aprendi o valor de pensar sem pressa.

O sentimento de insignificância, apesar de tudo, ainda não despontou em mim, nem me prendeu àquela cultura fatigada de pensar, precipitada em sentenciar, que nos faz esquecer a astúcia de reconhecer valores recônditos perdidos ao longo dos anos. À pobreza humana acrescenta-se essa outra pobreza, mais funda, que molda vontades, aperta rumos e nos incita ao conforto absurdo do cinzento das sombras.

Pensar exige gestos de claridade, gestos acompanhados de uma luminosidade capaz de desobscurecer horizontes. Não para provar nada a ninguém, mas para manter acesa a liberdade íntima de escolher, de discernir e de não ceder à contração. Pensar é rejeitar a obediência afável que tantos esperam.

Se algo envelhece o humano, talvez seja apenas a mediocridade das ideias irrisórias que nos querem sempre simpáticos, sim, mas pequenos. Porque o juízo da maturidade, quando se lhe dá a palavra, não se retrai: ilumina o caminho. E cada vida que pensa é uma vida que, mesmo em silêncio, continua a expandir-se no vasto mundo do humano.

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