Distraem-se, por vezes, dizendo-me que estou envelhecendo, como quem me aconchega num cobertor agradável. Sinto-me, de imediato, num pequeno quarto onde a vida se retrai. Mas logo surge a outra face: a vida vivida que me chama, me aproxima e me mostra o alcance do seu tempo, esse tempo onde aprendi o valor de pensar sem pressa.
O sentimento de insignificância, apesar de tudo, ainda não
despontou em mim, nem me prendeu àquela cultura fatigada de pensar, precipitada
em sentenciar, que nos faz esquecer a astúcia de reconhecer valores recônditos
perdidos ao longo dos anos. À pobreza humana acrescenta-se essa outra pobreza,
mais funda, que molda vontades, aperta rumos e nos incita ao conforto absurdo
do cinzento das sombras.
Pensar exige gestos de claridade, gestos acompanhados de uma
luminosidade capaz de desobscurecer horizontes. Não para provar nada a ninguém,
mas para manter acesa a liberdade íntima de escolher, de discernir e de não
ceder à contração. Pensar é rejeitar a obediência afável que tantos esperam.
Se algo envelhece o humano, talvez seja apenas a
mediocridade das ideias irrisórias que nos querem sempre simpáticos, sim, mas
pequenos. Porque o juízo da maturidade, quando se lhe dá a palavra, não se
retrai: ilumina o caminho. E cada vida que pensa é uma vida que, mesmo em
silêncio, continua a expandir-se no vasto mundo do humano.
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