domingo, abril 01, 2018

OS BALDIOS DA NATURALIDADE


O “à toa” tornado natural, amiúde se inebria na nascente das abstrações. Despreza, ou mesmo humilha, descuidada, a condição terrena do seu álveo concreto. Daí, se desponta um sortido de duvidosos supostos, aforismos decerto humanos e ocultados em augustos princípios. De propósito, ou não, estes calam sempre a sua nudez, diga-se ingénua, da sua mancebia lógica. Neste incauto e preguiçoso entrelaçar, quiçá assustado, tal nexo faz das suas. As relações e os vínculos, por isso, e nessas circunstâncias, detalham aparências onde o singular se mostra alegremente dispensado das suas pertenças e determinações. A partir daí, move-se a incessante e genérica moldura de um esboço alegórico com as saloias pretensões de se incutir em decisiva representatividade. A compreensão das coisas, desde então, ufana e atoleimada, difunde-se através das suas sonambúlicas derivas. Porém, num descampado onde o precioso sentido do transformável se desorienta ou, pior ainda, de todo se perde. Mesmo quando sós, bem reconhecemos que jamais caminhamos sozinhos. Melhor, e talvez com mais acerto, diria que é bom e conveniente lembrar que a humanidade é aquele vital e útil “terreiro do não-eu” onde o eu se situa e vive e aí se projeta e singulariza. Em consciência, onde o singular, o dito individual, se solidariza (ou não) com o Outro no transformável mundo que importa. Com (ou sem) esperas celestiais ou transcursos homólogos. O natural é (ou pode ser), de certo modo, um descuidado impensado que espera (ou desespera) mais de nós e das nossas humanas faculdades.

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