domingo, julho 08, 2018

“DEVER DE SER FELIZ” NESTA CAÓTICA REALIDADE? SIM, MAS…


Vive-se um tempo de reconhecida inquietação civilizacional. A ordem política e económica globalizada não se mostra capaz de resolver, e como tal de disfarçar, a vastidão das facetas caóticas que justificam tal inquietamento. A experiência socialista foi o que foi, o capitalismo global revela-se depredador e os ideais humanistas frágeis e desarmados. As denúncias e as contestações multiplicam-se, dispersando-se por um continuum fragmentado, desenhado e finalizado de materialidades múltiplas e diversas. Apontam-se discordâncias, a crítica à exploração sobe de tom e as desigualdades e injustiças sobrenadam visíveis á tona da realidade das nossas vidas. Nestas circunstâncias, o valor do homem tem-se vindo a instituir e a prolongar, no quadro da evolução histórica da acumulação capitalista, como objeto de troca no circuito das mercadorias, sujeito, assim e obviamente, ao continuado arbítrio e interesse dos outros. Os princípios individualistas fazem, deste modo, o seu caminho, autoalimentados por uma desalmada ética alicerçada sob o signo de uma fraqueza, a felicidade hedonista, que hoje, mais do que nunca, a mobiliza. Se assim é, impõe-se a demanda de um conserto ético, uma outra ética que naturalmente, em face do retrato acima referido, tem vindo a ser violada ou progressivamente excluída. A definição convincente desta, enquanto modelo ideal, pode apresentar-se imprecisa, mas a ideia, por si só, tem a potência de desorganizar a obediência aos algoritmos que a escoram, procedendo assim ao seu urgente e necessário corte. Deste modo, sugerindo prováveis e novas perspetivas e possibilidades de vida, assim como despertando, desejavelmente,  modos alternativos e compreensíveis de subjetivar a felicidade.

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