Não se resguarda a democracia simplesmente através de simbólicos e sinceros discursos. Sobretudo quando as perduráveis faltas cansam e se redizem compelidas por palavras diferentes. Faltas haverão sempre. Elas acontecem, e ocorrerão, ante os inevitáveis movimentos do tempo, do pensamento e da ação. Todavia, na esperança que as faltas sejam outras, diferentes, rumo ao prenúncio desejável de harmonia social. Sendo as mesmas, a insuficiência prova-se imperfeição, torna-se disfunção, e a sua continuada dilação anuncia, então, o desvio crónico fatal. A desconfiança vai-se assim infundindo e a frustração do homem movendo-se para o abismo incerto da desorientação. Exterioriza-se, então, a arte insaciável de atear o fogo, apenas aguardando os momentos certos de assanhar rancores acumulados. Para estes artistas da tocha, a agitação apronta-se, pois, na inflamação da emoção servindo-se dos vazios incumpridos. Esperando tão-só que a odiosidade ganhe corpo entre as fendas abertas no compromisso acordado das palavras e dos gestos. Em conclusão, estes apenas se aproveitam das fendas que, afinal, os outros permitiram que fossem rasgadas e, pior, que ainda hoje suportam vê-las abertas.
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