sábado, maio 02, 2020

A CLAREZA SEMÂNTICA POR VEZES DÓI


O abocamento entre Pedro Nuno Santos e João Gonçalves Pereira fez-se acontecimento. Apreciações e convicções ampliaram prontamente o seu eco. Clara Ferreira Alves, no seu Eixo crítico do Mal, e em jeito de remate, subescreveu Pedro Nuno Santos. Todavia, alongou-se mais tempo a depreciar o seu verbo do que a esclarecer a consonância. Como diligente adepto do Eixo, e fanático observador de contradições, ouso uma tradução. À personagem Clara Ferreira Alves não lhe falta recursos e qualidades que se apreciam e que muitos naturalmente cobiçam. No entanto, a dimensão comentarista requer, no meu ponto de vista, e em particular neste exercício crítico estimável, uma conformidade lógica e identitária. Assim sendo, fazer comentário político não dispensa coerência predicativa na arrumação dos argumentos. Daí pensar que alguns dos seus desbrios se radicam na exigência peculiar desse jogo egoico de identificações e ficções particularistas. A sua depreciação ao colar-se em demasia ao tempo usado e à ironia adotada logo se tornou questão questionável. O relevo dado à presumida deselegância discursiva do ministro acabou por desviar a atenção do essencial, do seu conteúdo e alcance político. E assim , deste modo, sem demora se lembrou a questão estética compensatória à verdade que inquieta e que, talvez mesmo, custe aceitar. Dominar a palavra ajuda ao argumento, à reflexão e à prudência, mas não garante a razão certa. A razão não se perde pelo modo nem pela palavra usada, afirma-se certamente pela transparência do sentido que ambos propõem e fazem convergir. Todos sabem que a clareza semântica por vezes dói. Porém, muitos poucos admitem que um murro na mesa, de quando em quando, ressoa bem melhor do que a mera palavra.

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