A imaginação assopra como um vento interior. Estimula o pensamento. Aclara caminhos. Pensar é sonhar de olhos abertos. É recolher sentidos no silêncio. É fantasiar lendas com as sobras dos dias. É bordar mundo com fios soltos. Sem essa inspiração, o pensamento sujeita-se aos moldes. Acomoda-se ao já feito. Criar é, por sua vez, o gesto vital que nos mantém em movimento. Empatia e devaneio cruzam-se como gestos que se tocam no ar. A empatia escuta o outro. O devaneio atravessa o invisível. Juntas, fazem da representação um ato vivo. Não apenas compreendendo, mas acolhendo. Dar lugar. Reintegrar presenças que tremem por dentro. Interpretar é tornar-se. É dizer com delicadeza, “aqui estás”. Somos obra inacabada. Não nascemos prontos. Vamo-nos fazendo. Tocados pelo que nos espelha. Pelo que nos ressoa. Pelo que nos desconcerta. Há identificações que nos devolvem a imagem. Outras que nos falam a linguagem secreta da alma. E há ainda aquelas, mais raras, que nos removem e nos refazem. É no encontro com a diferença que mais crescemos. A literatura é casa para todas essas formas de ser. Espelho. Murmúrio. Abalo. Nela descobrimos outras vidas. E por elas, estendemos a nossa, pensando, lendo e interpretando. Tudo isso é, no fundo, uma arte de viver. E de continuar a reconsiderar-se, vivendo a Arte de Tornar-se.
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