Vivemos um tempo em que a indiferença humana não conhece
cansaço — repete-se, reproduz-se, instala-se como costume. Onde falta o gesto
atento, esculpido pela diferença, pela escuta e pela diversidade do saber,
cresce a sombra da incivilidade: rápida, rude, rasa.
Pensar o outro com sensibilidade é um caminho para a verdade
do humano.
É aí que o conhecer se expande, não como posse, mas como partilha. A liberdade
de fazer pontes entre o que se sente e o que se pensa afina a escuta entre
subjetividades, favorece encontros, sustém a dúvida como lugar fértil da
colaboração.
Há um retrocesso subtil, ou talvez nem tanto, que se insinua
nas formas do desprezo, nos gestos automatizados pelo abuso de uma cultura
dominante que já não se interroga. A insensatez social não é obra do acaso, é
fruto e semente de narrativas que se esquivam à responsabilidade ética do
quotidiano.
Abrir-se ao outro é um gesto inicial. É reinvenção das
conversas, das presenças, dos modos de reconhecer e ser reconhecido. O ato
criativo, nesse espaço, é rutura - sim - mas também cuidado. Inquieta, remove,
desperta a consciência no agir.
Criar e educar - eis duas formas de atenção persistente. Dois
modos de interpretar, escutar, dar forma à expressão humana que deseja
compreender-se. Através desse movimento, o juízo desperta, o saber se renova e
o mundo torna-se novamente habitável.
Mas se a educação for só abstração, explicação, hierarquia, então adormece. E com ela, adormece também a verdade, embalada pela repetição anestesiante da indiferença. A ética da solicitude recusa esse sono. Ela vela. E ao velar, afirma: os direitos da vida e da dignidade não são opção, são origem.
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