sexta-feira, maio 16, 2025

A INSÓNIA DO HUMANO

Vivemos um tempo em que a indiferença humana não conhece cansaço — repete-se, reproduz-se, instala-se como costume. Onde falta o gesto atento, esculpido pela diferença, pela escuta e pela diversidade do saber, cresce a sombra da incivilidade: rápida, rude, rasa.

Pensar o outro com sensibilidade é um caminho para a verdade do humano.
É aí que o conhecer se expande, não como posse, mas como partilha. A liberdade de fazer pontes entre o que se sente e o que se pensa afina a escuta entre subjetividades, favorece encontros, sustém a dúvida como lugar fértil da colaboração.

Há um retrocesso subtil, ou talvez nem tanto, que se insinua nas formas do desprezo, nos gestos automatizados pelo abuso de uma cultura dominante que já não se interroga. A insensatez social não é obra do acaso, é fruto e semente de narrativas que se esquivam à responsabilidade ética do quotidiano.

Abrir-se ao outro é um gesto inicial. É reinvenção das conversas, das presenças, dos modos de reconhecer e ser reconhecido. O ato criativo, nesse espaço, é rutura - sim - mas também cuidado. Inquieta, remove, desperta a consciência no agir.

Criar e educar - eis duas formas de atenção persistente. Dois modos de interpretar, escutar, dar forma à expressão humana que deseja compreender-se. Através desse movimento, o juízo desperta, o saber se renova e o mundo torna-se novamente habitável.

Mas se a educação for só abstração, explicação, hierarquia, então adormece. E com ela, adormece também a verdade, embalada pela repetição anestesiante da indiferença. A ética da solicitude recusa esse sono. Ela vela. E ao velar, afirma: os direitos da vida e da dignidade não são opção, são origem. 

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