A formação da identidade não se dá de forma simples nem linear. A identificação, enquanto eixo estruturante, é bom dizê-lo, dispersa-se nas diversas leituras psicanalíticas e psicológicas, perdendo nitidez na multiplicidade das suas inferências. A articulação entre o pensar e o agir assume um carácter singular, arrastando-se por entre zonas de proximidade e diferença, onde se tecem representações que se tocam, mas não se confundem. Os conceitos de identificação, identidade, positividade e negatividade cruzam-se apressadamente, alimentando o diálogo tenso entre o Eu e o Supereu.
A identidade não é um dado inato, mas revela-se como uma
construção relacional. As identificações sustentam o desejo de estabilidade, de
concordância, de pertença. Outras, porém, nascem em territórios de
ambivalência: são igualmente constitutivas, mas dão corpo ao desacordo, à
oposição, à instabilidade. É neste entrelaçar de forças que emerge a célebre
dialética entre o Eu e o Outro, largamente explorada por filósofos e
pensadores.
Há quem veja a identidade como moldada pelas formações
inconscientes. Outros a entendem como ficção, efeito de identificações
imaginárias e simbólicas. E há ainda quem a encare como uma tarefa contínua,
marcada por aprendizagens, crises e reconfigurações. Deste modo, diferentes
níveis de identidade se sobrepõem e entrelaçam, nem sempre de forma pacífica ou
coerente. Entre o que o Eu deseja, imita e projeta, e o que o Supereu censura,
limita e impõe, instala-se uma oscilação constante. A busca de coesão choca-se
com o peso das normas e o arbítrio das regras herdadas.
O pensar, que representa, imagina e delibera, e o agir, que decide e concretiza, são ambos atravessados por estas estruturas identitárias. A sua relação nunca é pura ou transparente, está sempre mediada por instâncias em tensão. Assim, a identidade desenha-se como um processo construído por múltiplas identificações, conscientes e inconscientes, que ligam o Eu, o Supereu e os outros internalizados no percurso da vida psíquica.
Em jeito de conclusão, pode afirmar-se que a identidade não
é essência, mas processo; não é isolada, mas relacional; não é fixa, mas em
construção contínua. Está sempre atravessada por dimensões mentais, sociais,
linguísticas e éticas. O pensar e o agir, longe de serem livres ou puros, são
modulados por narrativas, linguagens, relações e estruturas psíquicas que o
sujeito não domina plenamente, mas pelas quais, inevitavelmente, se constitui.
A flexibilidade cultural e democrática por aqui certamente passa.
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