Sem saber, inventamos. Como quem apalpa no escuro, tropeçamos em revelações, e por vezes, descobrimos em nós aquilo que nos escapa. Há, quiçá, uma voz desusada que nos habita. O inconsciente murmura por entre gestos e palavras, e é ele, muitas vezes, que sobe ao palco em nosso nome. Ali, expõe-se com veemência, como se encenasse uma verdade que nem sabíamos conter.
Não sabemos repousar. Há em nós uma urgência de explorar o
instante, esse lugar onde o tempo se dobra sobre si mesmo. E nesse ímpeto,
dramatizamos. O palco torna-se espelho, e de tanto nos voltarmos para dentro,
vamo-nos reconhecendo nas máscaras que julgávamos alheias. A consciência
dispersa-se, fragmenta-se na circunstância, mas é desse fragmento que nasce a
centelha noética, esse fulgor íntimo do ritual da invenção. Sentimo-nos
criadores de mundos por vir, artífices de culturas que o espírito sonha e as
mãos moldam, sim, entre a matéria e a alegoria.
Pela palavra, esse sopro modelador, damos impulso ao sonho
criativo. Transportamos ideias que ainda não foram ditas, mas que já há muito nos
habitam em silêncio. São sínteses nascidas do imaginário, formas novas que a
razão sozinha não ousaria conceber. As memórias, polidas pela imaginação,
brilham como se nunca tivessem sido tocadas. E os sonhos, com sua audácia sem
testemunho, recriam realidades que o presente ainda não ousou viver. Assim,
enriquecemos, com o que pensamos, com o que inventamos, com aquilo que, sem
saber, verdadeiramente fomos e somos.
Sem comentários:
Enviar um comentário