segunda-feira, maio 19, 2025

O TRUMPISMO EM PORTUGAL

O trumpismo não se apresenta como uma doutrina política com princípios coerentes. Trata-se de um modo de atuar, onde a comunicação se torna um engenho provocador e emocional. Em vez de argumentos racionais e fundados, a retórica é coloquial, direta e descomprometida com a verdade factual. A pós-verdade ganha espaço, e a narrativa, mais poderosa que a realidade, estabelece o tom do debate público. Nesse terreno, a verdade não é mais um princípio absoluto, é antes lamentavelmente manipulada para servir a um propósito emocional e polarizante.

Neste cenário, os inimigos simbólicos tornam-se protagonistas da narrativa. A democracia, em seu funcionamento pluralista, é gradualmente enfraquecida e o 25 de Abril, símbolo maior da liberdade e da conquista democrática, é progressivamente rebaixado e descartado sem qualquer pudor. A provocação, então, não é apenas uma tática, mas um registo político, onde o choque é valorizado e o conflito se torna incessável. O poder, por sua vez, não se constrói sobre instituições ou sobre processos democráticos, mas sobre a figura do líder, que se apresenta como o libertador de um povo supostamente oprimido pelas ditas elites.

O populismo nacionalista, tal como o trumpismo, alimenta-se da desilusão social e do ressentimento. Ele usa o descontentamento das massas para minar a política democrática e afastar o cidadão do debate pluralista. Ao escavar as desigualdades e fantasiar inseguranças económicas, cria-se um clima de instabilidade onde a representação política parece falhar, dando espaço para um discurso simplista de "nós contra eles". O populismo explora, assim, o mal-estar identitário, apontando como vilões aqueles que são, ou aparentam ser, diferentes, sejam imigrantes, minorias ou as memórias democráticas que incomodam uma visão mais reacionária do país, como o próprio 25 de Abril.

Simplificando as questões e criando uma dicotomia entre o povo "autêntico" e as elites corruptas, o populismo encontra terreno fértil. A polarização é sua maior aliada. O “nós contra eles” transforma-se numa narrativa mobilizadora, onde qualquer nuance ou complexidade desaparece em nome de uma falsa pureza nacional. Os imitadores do trumpismo sabem que, no mundo contemporâneo, a atenção mediática é poder. E para garantir que dominam o espaço político, nada melhor do que alimentar a polémica constante. Criam-se disputas épicas e dramáticas, onde a verdade é substituída pela “verdade revelada”, e a narrativa política é desenhada não para refletir a realidade, mas para manipular emoções e dividir posições. O choque e a provocação servem como uma forma de aprisionar a atenção e manter o conflito turbulento.

Ao minar a confiança nas instituições, desacreditando a separação de poderes e atacando a ideia de uma verdade partilhada no espaço público, o trumpismo em Portugal começa a manifestar-se de maneira sutil, mas eficaz. As conquistas democráticas, como o 25 de Abril, são progressivamente desvalorizadas. A história recente, especialmente a história da democracia portuguesa, é reescrita e distorcida para adequar-se à narrativa populista. Os discursos de ódio, exclusão e polarização são normalizados, sendo os ataques à imprensa e à justiça uma constante. A instabilidade, tanto política quanto social, serve apenas para reforçar o poder de quem se posiciona como oposição radical ao sistema.

O trumpismo, adaptado ao contexto português, não é apenas um movimento de oposição; é um movimento de transformação das próprias bases da democracia. Ao substituir o debate racional por uma política da emoção, e a verdade por uma narrativa conveniente, ele ameaça perverter os fundamentos do Estado de Direito e da convivência democrática. O 25 de Abril, como marco da liberdade e da justiça, torna-se um símbolo que precisa ser deslegitimado para que essa nova narrativa populista possa avançar. A batalha pela verdade, pela verdade democrática, está, portanto, em pleno confronto e combate político e cultural. Ao que se "chega"…

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