Nos últimos anos, temos assistido ao crescimento de
movimentos neofascistas em várias partes do mundo. Trata-se de um fenômeno
complexo e multifacetado, com várias causas interligadas, que têm permitido que
essas ideologias ganhem força, especialmente em tempos de crise.
A crise económica global, que teve o seu auge em 2008 e que
se prolongou com os efeitos da pandemia de COVID-19, deixou muitos países numa
situação de profunda desigualdade social. O desemprego e a precariedade
aumentaram, e as classes mais baixas passaram a sentir-se excluídas do sistema.
Essa frustração alimenta o ressentimento e a busca por soluções fáceis, como as
oferecidas pelos movimentos neofascistas, que prometem recuperar uma suposta
"ordem" e restabelecer a "dignidade" de um passado
idealizado.
A globalização e as grandes ondas migratórias geraram, por
sua vez, um sentimento de insegurança em muitas comunidades. As pessoas têm
receio de perder as suas identidades culturais, especialmente quando percebem
que as suas tradições estão sendo desafiadas por outras culturas. Esse medo é
muitas vezes exacerbado pelos discursos populistas, que culpabilizam os
imigrantes pela crise social e económica, exaltando sentimentos xenófobos e
nacionalistas.
A crescente polarização política tem gerado, por sua vez, um
ambiente de desconfiança em relação às instituições tradicionais. Muitos sentem
que os partidos políticos, tanto à esquerda quanto à direita, já não
representam os seus interesses. Nesse vazio, os movimentos neofascistas
oferecem uma alternativa, apresentando-se como forças contra o sistema político
estabelecido e utilizando uma retórica antissistema para atrair eleitores
desiludidos.
O impacto das redes sociais na disseminação de ideias extremistas torna-se, assim, inegável. A rapidez com que informações, muitas vezes falsas, se difundem permite que narrativas distorcidas e teorias conspiratórias ganhem visibilidade. Os algoritmos dessas plataformas amplificam conteúdos sensacionalistas e polarizadores, criando bolhas de informação onde os indivíduos são expostos apenas a pontos de vista semelhantes aos seus, o que reforça crenças radicais.
A rejeição ao globalismo tem sido, por sua vez, um ponto
central em muitos movimentos neofascistas. Muitos veem as organizações
supranacionais, como a União Europeia, como ameaças à soberania nacional e à
autonomia dos estados. O nacionalismo exacerbado, aliado à crítica ao
multilateralismo, gera uma retórica que promove a ideia de que a força de um
país está na sua capacidade de se isolar do resto do mundo.
Em muitos casos, o apelo ao passado tem sido uma estratégia
eficaz para atrair apoio. A nostalgia de um tempo "melhor" ou mais
"próprio", em que se acreditava que os valores nacionais estavam mais
preservados, é uma das principais táticas usadas pelos neofascistas. Essa
nostalgia está frequentemente ligada a uma distorção histórica, na qual se
idealizam regimes autoritários do passado, como o fascismo e o nazismo, sem
compreender o impacto devastador que esses regimes tiveram nas sociedades.
A democracia liberal, em muitos países, tem mostrado sinais
de fragilidade. O aumento da corrupção, a ineficiência na gestão pública e a
incapacidade de resolver as desigualdades sociais têm gerado desilusão com o
sistema democrático. Em um ambiente em que as soluções tradicionais parecem não
funcionar, os movimentos neofascistas oferecem alternativas autoritárias,
muitas vezes com promessas de restaurar a ordem e a disciplina.
O combate ao neofascismo exige, pois, uma abordagem
multifacetada. Em primeiro lugar, é necessário fortalecer a democracia,
promovendo a participação cidadã e garantindo que as vozes das minorias sejam
ouvidas e respeitadas. A educação também desempenha um papel fundamental, visto
que é crucial educar as novas gerações para os valores da tolerância, do
respeito à diversidade e dos direitos humanos. Além disso, é preciso combater a
desinformação, incentivando uma cultura de mediação crítica, e promover políticas
económicas que reduzam as desigualdades sociais. Finalmente, a cooperação
internacional e o fortalecimento de instituições supranacionais como a União
Europeia podem ajudar a mitigar o avanço de narrativas isolacionistas e
nacionalistas.
A luta contra o neofascismo é, portanto, uma questão de proteger as democracias, garantir a justiça social e promover a inclusão, combatendo os discursos de ódio e intolerância com educação e empatia.
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