sábado, junho 28, 2025

O LOBO CAPITALISTA MANIPULA A DIALÉTICA DA INCLUSÃO

Vivemos uma época deploravelmente original, ou seja, quanto mais as empresas falam de igualdade, diversidade e causas sociais, mais crescem os seus proveitos e reconcentram a sua figura no utópico fim do comum. Não, não nos deixemos embalar por cartazes coloridos e suas obscenas campanhas que, sem desonra, exaltam a presunção, a inclusão ou o reforço do poder. A doutrina, porém, preserva-se fria e imperturbável, como sempre tem animado o capitalismo, tudo metamorfoseado em produto, sem esquecer, vejam bem, as nossas sublimidades mais íntimas.

É essa a provocação feita por estudiosos que ousam estudar e falar, quiçá no deserto, deste atual “capitalismo woke”. Todavia, longe de ser um erro de percurso ou uma moda estranha, o fenómeno não é mais do que a evolução consonante do próprio capitalismo, depois de décadas de adaptação aos ventos culturais e políticos do tempo desbravado. Contudo, o que mudou não foi o plano, mas sim as roupas que ele traja.

Durante o século XX, o trabalhador deixou de ser apenas um mero corpo que produz, para se tornar também um sujeito que sente, se identifica, protesta e se impõe como condição. Presenciámos, então, a empresa incluir-se numa sociedade que não vende apenas produtos, mas que também inscreve valores, ética e antevisões. Logo, nesse decurso, o próprio capitalismo teve de reconfigurar-se: já não bastava explorar, tornou-se necessário aliciar, logo, seduzir. Assim sendo, já não basta apenas vender, é preciso impressionar e emocionar. É aí que o arrazoado woke entra em cena, não como resistência, mas como utensílio da sua arte dramática.

O regime capitalista percebeu, nessa hora, que os slogans de justiça social, ambientais e identitários podiam ser excelentes estratégias do seu marketing. Avistou que, ao "abraçar causas", não perderia poder, bem pelo contrário, reforçava a sua oscilante legitimidade. Vender camisolas com frases feministas, patrocinar paradas LGBT, fazer anúncios com diversidade étnica, tudo isso exibe rendosos sinais de evolução. No entanto, trata-se, muitas vezes, de novas formas de colonização simbólica.

No essencial, diria que o “capitalismo woke” emerge como um lobo que aprendeu a falar de inclusão, mas que continua a comer carne, só que agora com guardanapo de linho e um cínico sorriso de gente venerável. O risco não está na sua léria vanguardista, mas sim no facto de poder ser assimilado, domesticado, silenciado do seu poder obscuro e transformante, reverenciado como imagem de marca.

O cenário transmuta-se: as lutas que nasceram da dor, da exclusão e da resistência tornam-se palavras sérias, vendáveis, atraentes e comuns. Assim, perdem a sua pressão histórica, ganhando lugar nos corredores suavizados das multinacionais. O “capitalismo woke” não é uma vitória da justiça, é uma suposta elegância da sua estetização. E o que é estetizado é, muitas vezes, tornado como inofensivo. Eis a assombrosa intrujice.

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