domingo, junho 22, 2025

A ARQUITETURA EMOCIONAL DA DOMINAÇÃO CULTURAL

Este texto, que sinteticamente apresento, inscreve-se numa orientação teórica que rasga com a separação tradicional entre a razão, a emoção e a ética numa breve exposição, reanimando a ideia de que não há maneira de falar sem afeto, nem afeto sem fala. Longe de ser um mero utensílio de comunicação racional de ideias, o fraseado é apresentado como uma prática social e histórica que abraça sentidos, sujeitos e afetos e, portanto, logo intervém, e de modo enérgico, na concertação das subjetividades e das paixões sociais.

Neste tempo de irrefutável dominação capitalista, este modo de encarar torna-se particularmente relevante, dado que revela que os afetos são convocados, encaminhados e até mesmo provocados de modo dedutivo, em concertação com interesses dominantes. A linguagem não apenas conduz ideologias, forjando concordâncias emocionais, ajustando sensibilidades e fantasiando imaginários afetivos que sustentam, ou não, a conveniência social vigente. Isso representa que os discursos dominantes não apenas convencem, mas afetam através de densos vínculos que adotam a mercantilização da vida, o consumo como forma de identidade e a obediência tola à ideia arrogante de produtividade.

As comunidades discursivas, portanto, não se estruturam apenas pelo que dizem, mas pelo que fazem sentir, pelo modo como seus membros compartilham emoções e se reconhecem mutuamente nos afetos que os discursos convocam. Isso explica como determinadas representações (publicitárias, políticas e/ou mediáticas) conseguem aprisionar o desejo e moldar as paixões coletivas, assim conduzidas em direção à valorização do consumo e à despolitização da vida cotidiana.

Este exemplo discursivo procura tirar a máscara à suposta neutralidade dos discursos, recolhendo em si a sua dimensão ideológica e afetiva. Ao reconhecer que os sentimentos também são construídos e manipulados por práticas discursivas, abre-se um espaço para uma crítica mais profunda aos modos como o capitalismo instrumentaliza a linguagem para reproduzir seus interesses econômicos, moldando não apenas o que pensamos, mas também o que sentimos e desejamos. Não importa só o que dizem, tem importância saber como nos fazem sentir nesta encruzilhada de afetos, ideologia e oratória. Eis o incómodo do meu estímulo, pois por aqui passa a liberdade e a dignidade humana.

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