Dou comigo, continuadamente, a ler, servindo-me da meditação
que nasce desse precioso lugar do silêncio, que me conduz à vida humana, tanto
pessoal como coletiva. A experiência tem-se mostrado positiva, sem restrições, descerrando
interioridades, considerações, interseções e, por vezes, novas interpretações. O
silêncio tem-me proporcionado distanciamento, favorecendo o pensamento, o
encontro comigo próprio e com o que me ultrapassa.
Só, e em silêncio, vou escapando ao excesso do ruído, da
informação e da desatenção. O silêncio apresenta-se sempre como resistência, permitindo-me recuperar a
particularidade da concentração e da profundidade da vivência. O silêncio,
hoje, nunca me faz só, bem pelo contrário, pois aprendi que me dá consistência
e tempo para uma veracidade mais humana. Trata-se, pois, de um convite
existencial, ao semear o quotidiano para recriar a calma, a criatividade e a
liberdade interior. Sinto hoje o silêncio assim como um espaço vital para o
pensamento, sensibilidade e espiritualidade, em polifonia com este tempo
saturado de ruídos e alvoroços.
O silêncio não é ausência, mas um princípio. É nele que reencontro os traços da vida ativa que me moldaram, agora aperfeiçoados, vistos à distância que ilumina. O passado já não me pesa, repercute-me, comovido, nos descansos que escolho viver. Ao desfolhar o tempo, compreendo que o silêncio é a moldura que dá sentido às minhas palavras e às ações de outrora. Longe do ruído, descubro que pensar é dar vida ao tempo. Cada leitura torna-se, assim, renascimento, cada ideia um fruto silencioso que amadurece no presente. Não é desistência, mas entusiasmo sereno, lado a lado, com uma alegria que cresce sem precisar de se sobrepor.
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