segunda-feira, agosto 11, 2025

ENQUANTO PENSO, ELES COBRAM

Não sou das certezas filosóficas, mas sei que, nos seus primeiros escritos, Marx já estava a romper com Hegel. Enquanto Hegel tratava as categorias sociais e económicas como expressões de conceitos filosóficos, Marx fez o inverso: partiu das relações reais - trabalho, propriedade, alienação - como categorias concretas, historicamente determinadas. Contudo, Marx ainda escrevia numa linguagem filosófica, o que abriu espaço para uma confusão duradoura: discutir desigualdade e exploração como se fossem problemas de ideias e não, sobretudo, problemas materiais.

O resultado é visível ainda hoje. Parte significativa do debate político perde-se em abstrações - princípios gerais, disputas ideológicas, “valores” - enquanto as condições concretas de produção, distribuição e apropriação de riqueza são relegadas para segundo plano. Ao deslocar o centro da crítica para o campo filosófico, deixa-se intacta a estrutura económica que sustenta a desigualdade.

Em síntese: trocar a análise da exploração pelo debate de conceitos é oferecer à injustiça a mais confortável das proteções — a de não ser nomeada como tal — deixando-a respirar livremente. Debater abstrações é sempre mais fácil; mudar as condições concretas é que exige luta e trabalho. Eu que o diga — e, por isso mesmo, agradeço ao sindicalismo e a quem o acompanha. A abstração não paga contas, a luta, sim. 

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