sexta-feira, abril 01, 2011

EM VÉSPERAS DE ELEIÇÕES, UMA RUPTURA PELA DEMOCRACIA


Consumo-me e desgasto-me a “indagar” políticas, políticos, comentadores e outras redondezas que, não podendo dar ouvidos à política, não se fartam de dizer mal dela, das suas figuras e, por vezes, ajustadamente, dos seus figurões. A política e as culturas que a enformam impõem-se em todos os lugares e a todo o tempo e raiam-nos, na sua habitualidade, como um dado inevitável tanto quanto incontornável é a permanência dos fenómenos do Poder e dos poderes na sua combinação com a conflitualidade que se deduz de perspectivas sociais e existenciais diferentes, quando não claramente contrárias.

polvo

A atual distância dos que fazem política dos cidadãos que pretendem representar, mas que deles se descasam, constitui um sinal dos tempos cuja explicação não é simples nem tão pouco de alcance fácil, designadamente perante as múltiplas complexidades e perplexidades do espesso e quase ilegível mundo de hoje. Algumas percepções, no entanto, vão-se esboçando em consensos cada vez mais alargados e, em simultâneo, trazendo à controvérsia novos problemas e acrescentadas preocupações. Sinalizemos, sob a forma de interrogações, apenas alguns desses problemas e dessas preocupações.

  • Estamos ou não a assistir a uma apropriação indevida e perigosa, por parte dos nossos eleitos, da representação que lhes conferimos através dos nossos votos? O que os faz desprezar a sua condição de representantes? Quais os factores essenciais que os levam a esse assenhoreamento obsceno?
  • Os votos ao significarem, para uma imensidão de cidadãos, frustrações feitas de expectativas e projetos de vida permanentemente atraiçoadas, não se tornarão causa de uma energia que se liberta e favorece um forte e expressivo distanciamento dos cidadãos face à política?
  • Será que a democracia ainda se reduz ao exercício do político e este mantém a centralidade em que aquela se fundamenta? Então, como se explica o sentimento de uma prevalência técnica e tecnocrática no exercício da política? Ou pior, como se pode justificar a progressiva, e hoje acentuada e quase pornográfica, demissão do político a favor do económico e do financeiro?

O exercício político não pode simplificar-se apenas à administração das pessoas e das coisas. Tornar os cidadãos meros consumidores é adormecê-los face às suas exigências fundamentais, exigências intrinsecamente humanas que não dispensam um olhar crítico e uma ação concertada pela criação de condições de existência que favoreçam e promovam a dignidade e a humanidade a esta associada. Ser democrata, verdadeiramente democrata, é ser por uma democracia que saiba dar respostas claras e coerentes, entre outras, aos problemas e preocupações atrás colocadas. Impõe-se AGIR em conformidade. Não se trata de um dever-ser. Trata-se, tão-só, de SER MAIS … exigente e solidário.

Nota: Imagem obtida em http://opuma.blogspot.com

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