sábado, abril 02, 2011

A “ESTÉTICA DO EU”


Um jovem irrequieto, provavelmente narcisista, pouco dado às exigências das religiões e animado pelos valores da auto-realização e pelos princípios da auto-determinação, apresenta um vídeo desafiante que, ao contrário de outros de sua autoria, escapa ao simplismo e afasta-se da banalidade. Os sentimentos de culpa não lhe fazem companhia e as ordens múltiplas e diversas parecem ser os seus inimigos de estimação. O inevitável é sem custo ladeado e as hierarquias tornam-se, no discurso, raias demasiado ténues para serem acatadas.

                                                                                      O incrível PC Siqueira

Procura deslegitimar, sem negligenciar, os lugares e as exigências fora do seu mundo de desejos e aspirações, sejam eles as religiões, um qualquer deus, política ou algo que o tente amoldar. O padrão social e tecnocrático parece igualmente aborrecê-lo pela plasticidade pegadiça de uma racionalidade instrumental supostamente asquerosa que sustenta tal bitola. A forte e determinada vontade de ser ele próprio respira o ar puro de um niilismo que estimula a busca incessável de sentidos, ao mesmo tempo que arrasa os que lhe oferecem.

A descoberta de nós próprios, associada à vertigem da originalidade, não tolera os modelos existentes posto que, como se sabe, recomeçar de novo a isso constrange. Mas os moldes existem e subsistem e, nessa medida, têm de ser dominados, quando não, demolidos. E nesta contenda, a própria descoberta se confunde com a ideia e, sobretudo, com a vontade de criação na definição de si próprio. E o processo faz recorrer, fatalmente, à imaginação que se quer original nessa impugnação aos conformismos de todo os tipos.

A liberdade do eu confronta-se, nessa ocasião, com os diferentes limites da vida e a autenticidade que se vai inventando, ao desaguar em mares de ondas alterosas, encontra a realidade dos outros e do enraizamento de cada um e de todos na comunidade. E é a partir desta incontornável perplexidade que à “estética do eu” se impõe, penso, adir e edificar uma ética dialógica na formação de si próprio com os outros. O valor não reside nem se pode reduzir à própria escolha mas, isso sim, à preferência de sentidos que se estima na escolha. A autenticidade pressupõe o reconhecimento do outro diferente e, nesse acto de reconhecer, a criação de uma ética que a legitima.

NOTA – Confesso; gostei de ver o vídeo e, ao fazê-lo, senti-me desafiado. Por isso decidi partilhá-lo com algumas observações e breves reflexões.

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