Lamenta-se não ter conhecimento suficiente da sociedade que está perto apesar de outros, sem rebuço, se permitirem mostrar o mundo que se sente e se percebe mais afastado. A encenação ganha aí o seu espaço e desproporciona-se perante a descuidada dispersão. Lasciva e com intenção, trabalham-se os palcos que importam. De modo matreiro, o visível e o invisível oferecem, nesse tempo, percepções, sentimentos e representações numa desapercebida economia da atenção. A ficção mediática esquissa, então, as realidades necessárias feitas de coisas cinicamente simples, no entanto, fixadas pela estranheza e pela opacidade. A transparência, o suposto cabouco fundamental da democracia, transforma-se docemente no seu mais previsível buraco tóxico.
Devorados pela impudica sedução do consumo, pelo desassossego de um quotidiano agitado, pelo trabalho inumano e desregrado ou, ao invés, pelas preocupações da sua escassez, mais surrados se fica pelo desmando torpe da (des)informação. Acresce, que a ignomínia insatisfeita ou insegura, reanima-se em permanência com as técnicas subliminares e eficazes de invocação da atenção que importa e interessa às proeminências sociais discutíveis. É assim que a encenação ocupa, nesta candonga bastarda, o lugar das ideologias e, deste jeito, procura a fulanização de uma suposta credibilidade que justifica o abastardamento.
Nesta campanha eleitoral, este fenómeno é de mais evidente. Para que tudo fique na mesma joga-se na personalização política centrada em dois rostos, encenam-se conflitualidades grupais e pessoais, teatraliza-se seduções de toda a espécie mas evita-se apresentar o que nos bastidores já se decidiu e o que na ação política concreta se pensa fazer. A promiscuidade da generalidade da comunicação social com estas teses da manipulação faz do teatro político um instrumento de poder que deprecia a democracia e desqualifica a inteligência crítica da cidadania.
Assim sendo, pior do que as marionetes centrais, na minha modesta mas enraivada opinião, confesso, são os energúmenos marginais e serventuários que desfilam nas pantalhas da televisão. Estes não fazem mais do que regurgitar, com ares aparvoados e insolentes, imitações contrafeitas demasiado previsíveis, acrescidas de trivialidades idiotas e burlescas. A esfera do mercado, e o corporativismo jornalístico a ela associada, é abusivamente invasiva perante um poder político inabilitado que tenta ocultar a sua penosa condição de gente vencida e tristemente colonizada. E assim se vai iludindo os pacóvios exibindo um tosco folclore, ao mesmo tempo que se sonegam as verdadeiras intenções e o alcance das suas duras consequências. E são estas que convêm serem esclarecidas …
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