Li o que não pude deixar de ler, escrevi apenas e-mails improrrogáveis e nada fiz que importe aludir ao longo desta última semana. Não obstante, andei muito atarefado, ou melhor, alegremente azafamado com convívios, afectos e memórias de familiares e amigos que me fizeram viver e reviver. Ainda bem. Não dei por mim, nesta feliz circunstância, acareado com aquela vontade indeterminada, e de arriscada auto-compreensão, em ir de companhia com esse folguedo eleitoral feito de um vazio político penoso e desesperante. Mormente, descansei da perversa comunicação social que presta aquele submisso, comovente e patológico papel de perversão democrática.
Sou um, entre muitos, que entende que a democracia é tanto mais democrática quanto mais esclarecidos forem os cidadãos. Assistir, assim, à degeneração mórbida das inteligências estimulada por múltiplos figurantes, nos quais incluo, julgo que com toda a propriedade, os supostos doutos “politiqueiros” que se travestem de imparcialidade, constitui, para mim, o clímax do masoquismo moral e intelectual da farsa eleitoral. O PS recusa os privilégios de Marcelo mas não tem a vontade, e por isso dispensa a coragem, de fazer alinhar a prática com o discurso que a ocasião madrasta solicita no seu despudorado significado oportunístico. Mais do que discrepância, estamos na presença da eficácia de uma produção procurada da dita degeneração que serve aquela alternância que cria a verdadeira gordura do sistema; o sebo e banha dos seus gulosos.
Nesta pantomina trágico-cómica, os gulosos insaciáveis na voragem da sua avidez, tudo fazem para tornar os cidadãos em esqueléticos eleitores, mendigos de um direito que virou dever de poder escolher apenas os pratos do dia de um cardápio que exala o fedor da burocracia acomodada pelo mundo das negociatas, ambos com a reputação em baixa, atravessando desavergonhados as ruas da amargura ética. Como o passado recente tem vindo a acusar, os compromissos assumidos valem até ver e os direitos com facilidade são engolidos na sua historicidade pelas bocarras desses chulos glutões. Entre a esperança e o desespero, resta-me ainda a dignidade da história e a referência daqueles que serviram sem nada pedirem em troca. Todavia, até quando esta memória me dará energia para acreditar?
Imagem retirada daqui
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