sexta-feira, junho 08, 2012

A PACIÊNCIA É UM RECURSO E, COMO TAL, TAMBÉM SE ESGOTA

 

DemocraciaOs valores democráticos não se inscrevem apenas nesta ou naquela democracia nem tão pouco na ritualização dos seus discursos laudatórios. Mesmo no abstrato, direi que as democracias valem pela democraticidade que lhes dá vida e, nesta perspetiva, as suas legitimidades devem reconhecer-se na materialização dessa magna exigência. A minha profunda convicção, arreigada nesta simples ideia, leva-me a manifestar com todo o vigor que não sou, não quero ser e tudo farei para que muitos outros não se sintam no dever moral de serem democratas nesta forma política obscena, viciosa e espessamente mercantilizada.

Leva-se os cidadãos a expressar vontades e intenções para de imediato, através da mediação de múltiplas representatividades habilidosamente formalizadas, desdenharem estas a favor de um outro tipo de lógicas e de interesses que, de modo resvaladiço, escapam à instigação de um imperioso escrutínio público informado e esclarecido. Quem é democrata sabe que a fertilidade da democracia não carece de mascaradas técnicas de reprodução artificial, empregando (é o termo) barrigas de aluguer que, sem qualquer recato, petulante e impropriamente aparecem a reclamar, como suas, legitimidades em si (e por si) irrefragáveis.

Fazendo da economia coisa apolítica, o segredo exibido converte assim vontades expressas em sarcásticas sujeições lógicas e, matreiro, o segredo descobre ainda e enaltece depois paciências e compreensões umbráticas tudo em nome do povo, não do seu presente (claro) mas de um futuro (in)certo que há de vir. No fundo, são estas as singelezas (entre outras) do chamado Estado democrático moderno onde as numerosas máquinas que fazem política, apadrinhadas pelo conluio dos seus amigáveis aparelhos partidários, esgotam e ensecam as democraticidades, reinventando manipulações e expropriando cidadanias.

Assim, meus amigos, se esta democracia não se ajusta, importa esperar (sem espera, como diria Derrida) por uma outra, embargando a que, como a atual, pelas razões experienciadas, não serve. Fazer acontecer esta interrupção é uma necessidade, é uma urgência, é um ditame que se espera pela mobilização ativa e não expectante de um povo que quer (e luta por ter) um futuro, apropriando-se da sua marcha, construindo nele uma nova ideia de justiça e de democracia. Talvez revolucionando a democracia e, por que não, a própria ideia de revolução, lembrando sempre que as democracias valem pela democraticidade que lhes dá vida e lhes confere legitimidade e dignidade.

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