sexta-feira, novembro 07, 2014

VOLTANDO AO TEMA DA FALSIFICAÇÃO DAS CLASSIFICAÇÕES ESCOLARES

foto_indexAo meu amigo Sérgio, a quem prometi uma resposta mais fundamentada sobre a minha postagem de 20 de setembro, intitulada CONTRABANDO OU APENAS GENTE DE MÁ NOTA?

Começo por apresentar ao Sérgio os meus cumprimentos e, junto com estes, as minhas desculpas pela demora da resposta há muito prometida.

Amigo Sérgio; sobre o tema em causa, expresso através de um texto necessariamente telegráfico (escrito de e para um blogue, logo curto, ao qual se fez acasalar um tom deliberadamente jocoso), muitas interrogações seriam possíveis e passíveis de serem colocadas, não só por estas características que acabo de mencionar como também, e sobretudo, pela complexidade do próprio tema.

No essencial, o que procurei ironicamente condenar foi o publicado espavento (e não propriamente o pasmo público) sobre os condenáveis comportamentos das instituições escolares no que às avaliações dos alunos diz respeito. E isto porquê? Porque os hosanas cantados aos celebérrimos rankings empalmaram, na altura e sem pinta de embaraço, a natureza diversa e intrinsecamente complexa da realidade educativa, fabulando a batota da homogeneidade (social, cultural e economicamente dizendo) sob a regência da batuta axiológica da justiça, orquestrando uma peça musical melódica onde o mérito se tornou o mote. Daí que, o espanto revelado atesta, para mim, uma de duas coisas; ou credulidade insciente ou tão-só ciente má-fé.

De uma forma sumária, passo (no entanto) a elencar apenas três dos tópicos (provavelmente os mais estruturantes) que sustentam esta minha perspetiva crítica, não entrando sequer na arquitetura matemática dos resultados que, pela sua conjuração, constrange as instituições escolares às inclassificáveis manobras, umas movidas por uma patética sobrevivência, outras catando, como convém neste mercado da educação, um prestígio indevido:

1. De uma forma geral, os rankings, nos seus múltiplos (e alguns verdadeiramente carnavalescos) campos de serventia, constituem um implemento precioso (deste impiedoso capitalismo neoliberal) que tem por função amamentar (leia-se, dar de mamar) a uma interminável e meliante concorrência (competição), justificando-os (os rankings) com base na suposta relevância social (diga-se, sistémica) das seriações daí decorrentes;

2. No domínio da educação, para além deste transversal tormento ideológico, os rankings escolares sofrem de algumas (outras) sérias e preocupantes distorções pois o processo escolar institucional, ao envolver a irrevogável responsabilidade ética da formação e do desenvolvimento de todas as crianças e jovens, faz com que seja da mais elementar honestidade e justiça ter-se (seguramente) presente que esta incumbência se inscreve num campo fortemente marcado pela diversidade (individual e sociocultural), ao qual acresce uma realização que se efetiva também e igualmente em contextos dissemelhantes e compósitos no que toca aos recursos, designadamente físicos e materiais.

3. Deste modo, neste quadro incontornável de assimetrias e desigualdades, desconsiderar as histórias autênticas que, sempre intrincadas e multifacetadas (e existindo massivamente), reclamam a (cons)ciência da diferença, da sensibilidade e da aceitação – feita de penosos diagnósticos e de engenhosidades incertas, eticamente persuadidos da certeza das necessidades das crianças e dos jovens – não posso deixar de perguntar; como se pode garantir, neste lôbrego e sectário espetáculo da simplificação, rigor na avaliação do que nas escolas se faz se não através de uma dramática invencionice ideológica assente numa colossal mentira social e institucional?

Termino, invocando aqui Bento de Jesus Caraça que não comparece, nestas circunstâncias, como tu podes imaginar, por acaso. Para além de constituir uma referência bem presente no espírito crítico que trespassa este escrito, foi ele que no, plano institucional e simbólico, nos aproximou. E ainda bem.

Um abraço amigo.

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