domingo, setembro 13, 2015

AS SOMBRAS METAFÓRICAS DA UTILIDADE

 

debate-passos-costa02_770x433_acf_cropped-1Passos Coelho e António Costa cumpriram a costumeira liturgia de evangelização eleitoral. Ocuparam, sem qualquer pejo democrático, um desmesurado e condensado espaço mediático decididamente aprontado para a eficaz reprodução inventiva da universalidade hoje ficcionada e talhada à regulação vigorante da presente hegemonia ideológica do euro. No “bate-boca”, cada um a seu modo, esgueirou-se da tirania dos incomplacentes instrumentos da dívida e dos ajustes orçamentais. Em síntese, o primeiro, contente, fingiu-se contristado; o outro, contrafeito, paliou a conformidade.

Assim, Passos, enredado e equivocado por números desarticulados, descobriu-se empurrado e encurralado na sua abrupta e enfezada defesa, tanto mais desordenada quanto acreditável, para ele, da sua superioridade e do suposto mérito do seu argumentário. O seu discurso sobre o futuro, escorando-se somente na inoculação do medo, tornou-se sombrio e desalentador. Apesar disso, e perante esta inesperável inépcia do oponente, sabendo vencer mas não convencer, Costa não foi capaz (ou não quis) ganhar definitivamente o país. Esmolando amiúde confiança, não arredou dos cidadãos votantes a arrastada suspeita sobre o seu projeto de futuro. A sua fala, nem uma vez só, transpôs com clareza as raias do liberalismo que diz rejeitar.

Prisioneiros de uma ordem que não adversam, por conveniência ou fraqueza, remanesceu-lhes (tão-só) os artifícios retóricos saturados de significantes que emprazam sentidos espúrios, marcados pela inanidade ética e social e pela sua consonante indeterminação, ou mesmo, indistinção política. Do PSD e do CDS nada se aspira; a ordem serve-lhes e eles piamente tratam de cuidar dela. Ao PS, auto situando-se no campo da esquerda, exige-se bem mais; importa esclarecer contra quem ele se organiza (ou vem organizando), tendo em conta a luta política que se impõe empreender nestes tempos complexos do neoliberalismo globalizado. A utilidade do voto depende desta inadiável aclaração; só depois se pode saber a quem serve o voto e o que ele pode representar na rotura necessária - não só imediata mas também na sua previsibilidade histórica - a favor da inscrição inequívoca da equidade e justiça no âmbito do desenvolvimento social do país.

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