sábado, maio 20, 2017

MAIO 13, UM CONCENTRADO DE EMOÇÕES

 

No 13 de maio último, numa intrigante fúria (ou fuga) histórica, enrugada por súbita vinculação a um sublime fado lusitano, admitia-se que os portugueses se haveriam, afinal, de reencontrar com as suas raízes simbólicas e mitológicas, mediante as quais a faceta exaltante da jactância, finalmente, reprimiria a aferrada queda na persistente e deprimente saudade acamada, um tanto ontológica, da sua arcaica essência criadora de impérios entretanto abortada.

De manhã, todos, mesmo todos (cristãos, ateus e apáticos), confluiriam, mental e fisicamente, para esse beatificado lugar predestinado, onde os pastorinhos, não deixando de o ser, se converteriam em santos. De tarde, todos, mesmo todos, se regozijariam com os seus lábaros ou bandeiras, na circunstância professantes ou tinhosos, estes caçoando com o burlesco da treta, os outros comemorando  em gáudio e em trânsito o tetra, todavia, ambos, todos, em divina eucaristia canibalesca com o ondeante de agitação avermelhado.

À noite, muito provavelmente, e pelo contrário, o acerto apresentava-se menos esperançoso. Um rapazote, com uma deselegante aparência relaxada, barba em arrogante desalinho, cabelo estranhamente encapelado, à revelia dos mais reverenciados escantilhões prescritos, ousaria botar anomia artística na ordem fabril da exorbitância festivaleira.

Tudo aconteceu, tudo parece ter resultado, e como se presume saber, a transferência tem uma força psíquica poderosa, pois os egos marcadamente neuróticos, sobretudo em cenário de massas, tendem a albergar no seu eu esse mundo inteiro, embora incomum, quando este se compadece, acima de tudo, com uma desaconchegada dispneia existencial. Assim, deixar a libido descansar e as emoções flutuar livremente, manifesta-se em um útil oportuno. Certamente, assistirá ao nosso sentimento de sobrevivência e, nunca se sabe, de consolável refúgio.

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