terça-feira, julho 29, 2025

A RETÓRICA DA SIMPLIFICAÇÃO EM RITA MATIAS

Acabo de ler o texto de Rita Matias, “Como o wokismo colonizou o discurso político”, em “WOKE FIZEMOS?”. Tomando algumas notas, permito-me - com um olhar crítico - fazer algumas observações.

Ponto 1 – Trata-se de uma abordagem que procura reduzir a complexidade a uma caricatura. Não distingue entre diferentes correntes progressistas, nem reconhece a diversidade interna do chamado “movimento woke”. O que procura é fantasiar um inimigo abstrato, equivalente e ubíquo, ou seja, arquitetar uma estratégia retórica típica do combate cultural.

Ponto 2 – Matias alega que o wokismo colonizou a palavra política, inviabilizando o debate livre. Ignora, ou tenta silenciar, as causas e justificações históricas que deram origem às lutas contra o racismo estrutural, a desigualdade de género, a exclusão colonial e pós-colonial. Trata essas perturbações como uma doença, escamoteando a problemática das causas profundas das desigualdades.

Ponto 3 – O wokismo, para a autora, não passa de uma inversão dos valores civilizacionais ocidentais. O “antirracismo” e o “feminismo interseccional” são, para ela, não lutas por justiça, mas ferramentas de opressão ideológica. Trata-se de uma estratégia que procura camuflar relações de poder efetivas, criando a fantasia de que os privilegiados, de hoje ou de outro tempo, estariam agora a ser discriminados. Daí a reivindicação silenciosa do estatuto de vítima por parte dos setores conservadores da sociedade.

Ponto 4 – Matias queixa-se de casos de intolerância por parte de certos setores ativistas. Porém, não problematiza a tensão entre liberdade de expressão e discurso de ódio, nem reconhece que essa liberdade sempre foi situada por preceitos culturais, jurídicos e éticos. O que Matias silencia pode, com frequência, ser lido como resistência a formas de dominação simbólica.

Ponto 5 – O seu texto não apresenta qualquer autocrítica da parte da direita. A crítica ao “excesso woke” só é credível quando acompanhada de uma posição reflexiva, que reconheça tanto os excessos do presente como as violências do passado (e do presente) que continuam a justificar as lutas emancipatórias. O texto de Matias é claramente tendencioso, sem cambiantes, procurando apenas mobilizar distraídos contra um inimigo cultural fabricado.

Conclusão – Sendo eu um homem de esquerda, vejo neste seu texto uma narrativa clara de manipulação retórica, que visa fazer equivaler a crítica social a um antagonismo moralista e reativo. A crítica ao “wokismo” poderia ser feita de forma honesta e construtiva, mas Matias optou por uma visão simplificadora, tristemente emocional e ideologicamente polarizante.

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