Vive-se um tempo, dito democrático, em que pensar se tornou ousadia e opor-se, quase um pecado cívico. A emoção senta-se ao comando, e o discernimento, tímido, pede perdão antes de se pronunciar. Já não se discutem ideias, apenas se medem feridas em coro de sensibilidades ofendidas.
A ignorância, hoje, repousa em sofás confortáveis, navegando
na rede social que lhe ajustaram à medida. Ninguém quer sair: é mais cómodo
chamar “agressão” ao simples gesto de pensar diferente.
Recordo Strenger, que ainda nos convida à coragem da fala
racional, essa antiga rebeldia que um dia chamámos argumentar. Porque, no
fundo, talvez a mais grave das ofensas contemporâneas seja, justamente, usar a
cabeça sem pedir licença.
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