sexta-feira, maio 29, 2020

O CENÁRIO REAL DE FRANCISCO JOSÉ VIEGAS


Francisco José Viegas (FJV) aceitou o apelo do tabloide “CM” para descer à península imaginária e revisitar “o lugar negro da noite de maio”. Já dizia o meu amigo, batizado de Marx, que o concreto é concreto pois ele é a síntese de numerosas determinações. Melhor, que o concreto não é mais do que uma unidade do múltiplo. Daí que um pensamento que se ambiciona ser íntegro deve-se desenvolver como um processo de síntese, e não seduzido por uma dúbia conveniência de partida.

A jornada do escritor aos lugares macabros, como as imagens confirmam, e acima de tudo testemunham, revela por si a provável debilidade de uma consciência jornalística na sua relação com o real e com a nitidez da sua busca. O FJV, sendo escritor, sabe usar, e usou bem, a comunicação literária, oferecendo à dimensão pragmática da escrita um acrescido valor estético. Nada havia a obstar se o autor não se deixasse trair por uma linguagem afrontosa marcada, quiçá, pelo subjetivismo subtraído da sua ideação. Ao alongar-se sobre a península imaginária e o seu (t)ermo, o lúgubre Peniche, FJV resvalou não para a mentira completa, mas para uma cómoda falsidade enquanto pano de fundo da sua pulsão autística e consequente topologia semiótica. Sem mais, e apesar da inquietação que me provoca a sujeição da linguagem, junto-me a António Coimbra de Matos quando ele, pacientemente, diz que apesar do avanço sociocultural a palavra de rei é ainda a mais escutada. A pessoa de bem não engana, pode, sim, é enganar-se…

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