terça-feira, novembro 23, 2021

A INVERDADE, UMA CIRCUNSTÂNCIA DA MENTIRA

Por muito que a ideia cause incómodo diria que a falsidade, a todo o momento, futura o rumo da verdade. Esse tal destino de horizonte largo onde a mentira se arquiteta, e sobretudo se recria. Hábil ou não, sempre intemporal enquanto negação e deturpação. Negação na sua dialética e assonante na deturpação da sua representação. Hospedado o capcioso senso, a partir daí assedia-se a simulada valia da significação ilusória. Desviando-se da razão precisa, a mentira tudo ajeita para virar o aspeto à “coisa”, ou até, e sem dó, em definitivo a sepultar no fossário das ausências. O apego ao rigor seguramente se perde e o acesso à natureza absoluta da inverdade revela-se. Isto posto, pergunta-se; por que não principiar pela mentira, pela tortuosidade do seu roteiro e pelo que ela cala ou busca falsear? Caminhar para a verdade pressupõe procurá-la, mesmo na mentira, nesse outro lado do biombo onde a emancipação humana entorpece e a liberdade se desfigura. Adormecidos? Quem sabe. Mas certa e massivamente entretidos ouvindo - e trauteando - a cançoneta capitalista de nota única[1].


[1] Expressão de José Barata Moura (Filosofia Em O Capital, pág. 224)

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