Estamos em período de eleições e uma verdade desponta: a gritante incompatibilidade com a cultura democrática. O jargão adultera-se, servindo-se da truculência da palavra agressiva e da galvanização acalorada. O riso hipócrita tenta disfarçar a falsidade e suavizar a violência das palavras. A desqualificação, por sua vez, enlaça o rival; a desumanização é clara na ressignificação, e a intolerância esforça-se para dissimular o enfurecimento.
As palavras, mais do que pedradas ou petulâncias, alavancam
expulsões, desmentem qualidades e, sobretudo, inflamam aversões e rancores. O
sentido alegórico torna-se negativo, convertendo-se assim em algo teimoso, persistente
e contínuo. A violência verbal mostra-se, no entanto, insuficiente e, como tal,
salta para o palco político agredindo honras, dignidades e identidades. Principalmente,
desqualificando aqueles que pensam de forma diferente. Discutir e argumentar
não serve, interessa sim tornar o outro um inimigo em que a conciliação e o entendimento
é irreal.
A competição democrática em nada assim contribui, pois a
ideia da pluralidade, do debate livre e do compromisso com a convivência política
contrariada, como é óbvio, danifica a meta finalidade. O que parece importar,
diga-se, é caminhar teimosamente o itinerário da insensibilidade, através da
intimidação verbal, minando os seus princípios e, consequentemente, favorecendo
a assimetria do antagonismo.
A violência verbal torna-se, então, um combustível para a radicalização das suas diferenças. Não interessa dialogar; o que importa, sim, é dizimar a legitimidade do opositor desvalorizando os valores democráticos de confiança e respeito recíproco. A linguagem política agressiva favorece a instabilidade e prejudica a saúde do processo democrático. A fragmentação da sociedade, decorrente de palavras violentas na linguagem política, favorece visões polarizadas, criando um “nós contra eles”, sempre visto como uma ameaça.
A cultura democrática é hoje um desafio fundamental, baseado
em uma linguagem política capaz de promover a tolerância e o entendimento, e
não a transgressão e a odiosidade, desumanizando o outro. A linguagem política
deve ser uma forma de acordo, consenso e conformidade, não de agressividade,
ofensas ou depreciações. Os valores democráticos, como o pluralismo, inclusão e
respeito pelas diferentes opiniões, tornam-se, no conjunto, o referencial da
cultura representativa da democracia que defendemos e temos a obrigação de
defender.
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