sábado, abril 19, 2025

OS PARTIDOS E O AGITADO CENÁRIO DIGITAL

Nesta minha idade já avançada, obrigam-me não só a comprometer, mas também a equacionar o risco que os partidos, igualmente mais desgastados, sejam abatidos por agitações populistas mais astutas e adaptadas ao novo panorama digital. A cidadania dos tempos atuais, goste-se ou não, encontra-se mais dispersa e movimentada, o que ameaça os partidos, que precisam urgentemente se acertar e se regenerar.

A política vive hoje mudanças bruscas e desafiadoras, induzidas pela agitação digital e pelos TICs que a cercam. Torna-se, assim, um cenário corrente mais descentralizado e menos vinculado aos alicerces tradicionais que moderavam a comunicação e a mediação política. Daí, as mudanças políticas se tornam outras, diferenciadas e discrepantes das tradicionais.

Reconheço que não é fácil entender a exigência desse movimento digital e, muito menos, deslocarmo-nos da rotina tradicional de modo a entender a relevância dessa metamorfose comunicável. A cidadania por aqui passa e em consequência das redes sociais, do seu poder difuso e descentrado, as pessoas cada vez mais se desviam, nas suas manifestações e mobilizações políticas, dos partidos e da comunicação tradicional.

Com os TICs, surge um novo tipo de poder, talvez diluído e afastado das grandes organizações centrais. Neste contexto, os “prosumers”, por sua vez, surgiram com o avanço das tecnologias digitais e com a consequente democratização do acesso à informação e à comunicação. Num contexto tradicional, consumidores são pessoas que compram e utilizam produtos ou serviços sem necessariamente criar ou modificar algo. Já os “prosumers” são aqueles que, além de consumir, também participam ativamente na criação, modificação ou distribuição de conteúdos, produtos ou serviços.

É nesta conjuntura que os partidos tradicionais se confrontam com a possibilidade de enfrentar uma erosão política perdendo o seu espaço capaz de contagiar e mobilizar cidadãos através da tradicional comunicação. Os movimentos populistas, por sua vez, difusos nas suas ideologias propagandeadas, tornam-se, neste contexto caótico, desembaraçados e eficazes na mobilização do voto.

Os partidos tradicionais que nos têm acompanhado carecem claramente, do meu ponto de vista, de mudanças políticas e discursivas para se adaptarem a este novo tempo e realidade, cultural e socialmente, sobretudo repensando as suas identidades políticas, recriando novas linhas de ideias e formas de organização adaptadas às realidades políticas e tecnológicas atuais. Para tal, é preciso reconhecer o valor das mudanças nos múltiplos campos da comunicação política, da cidadania e da sua natureza, bem como a razão de ser do poder num tempo difuso, centrado nas pessoas e nas redes sociais. Será, também, por aqui?...

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