quarta-feira, abril 16, 2025

O JOGO DAS IDENTIDADES E O ACORDO DA HARMONIA SOCIAL

Ao ler A Armadilha Identitária, de Yascha Mounk, fui-me concentrando no profícuo e artificioso engenho verbal, enquanto serventia do arquétipo para caçar, sobretudo, o inconsciente de gente descuidada e apoderada pelo seu dente canino. Trata-se de pessoas que pensam e forjam identidades de mentiras distintas, acima da paridade individual, dos seus direitos e respeitabilidade humana.

Como sentencio com evidência, um dos grandes contratempos da chamada “armadilha identitária”, como o autor a batiza, é que ela anemie a harmonia social, sobrestime as identidades desconjuntadas e as converta no foco do debate público e político, obstaculizando a inclusividade e conflituando, envenenando a divergência entre elas. O necessitado essencialismo, ao encurtar a complexidade humana, faz-se indesejável, ao sentenciar as pessoas pelas suas pertenças culturais e não como criaturas próximas e semelhantes.

Enfatizar o jogo verbal e social de soma zero — o que um grupo ganha, o outro perde — gera um clima de rivalidade que, em nada, ajuda o diálogo cooperativo necessário a uma aproximação que se torne socialmente mais fecundante do que nos deixarmos arrastar pela tacanha antipatia entre ambas forjada. Há, então, que investir na razão e no universalismo, aos seus princípios, recorrendo à dignidade humana e aos direitos fundamentais, tentando superar, assim, as suas fragmentações sociais e culturais, sem ter em conta as suas justificadas fidelidades.

Como podemos argumentar contra esse estratagema identitário, segundo Mounk? Sinteticamente, impõem-se quatro pilares indispensáveis. O primeiro, ao valorizar, destacando os direitos universais e a dignidade humana, afirma que todos têm direitos iguais, independentemente de raças, géneros ou outros atributos. Em segundo lugar, dar destaque à ideia que se procura e se ambiciona, ou seja, uma sociedade inclusiva e unificada, através de princípios comuns, assim como, e paralelamente, a consolidação da democracia. Em terceiro momento, reconhecer a complexidade da identidade humana, admitindo a individualidade das pessoas e os seus direitos à liberdade. Por último, servir-se da razão e do diálogo, tendo presente a relevância de soluções racionais e justas para as naturais e legítimas dificuldades, evitando a queda na dita armadilha de ver e pressagiar o mundo.

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