Se o dinheiro é a alma do nosso tempo, então vivemos sob o império de um fantasma que consome tudo e não sente mais nada. Logo, não estranho o tamanho sufoco, pois o ar que respiro foi penhorado. A cultura vulgarizada, afinal, apenas adora cifrões e renuncia, sem piedade, a quaisquer rumos mais humanos. O capital, o seu bicho, é aquele seu deus que alinha doutrinas e sustenta o delírio provindo da fingida e patológica crença. Eu, o anormal blasfemo, sofro merecidamente de castigo com os pulmões entulhados de náusea. O capital, por sua vez, de alma febril, vai dançando sobre as ruínas do humano.
Talvez por isso o ar se revele repetidamente denso, imundo de ambição e
desespero. O capital é isso, um sopro vital do presente deste mundo que respira morte em atuações
suaves. Todavia, a minha náusea vai escapando apenas como sintoma de relutante
lucidez. A civilização que ergue a sua alma em números não consegue afundar o meu
coração nos escombros. Vou, todavia, embora impaciente, respirando o pó da
empatia desaparecida.
Sem comentários:
Enviar um comentário