sábado, junho 14, 2025

O FANTASMA QUE RESPIRA POR NÓS

Se o dinheiro é a alma do nosso tempo, então vivemos sob o império de um fantasma que consome tudo e não sente mais nada. Logo, não estranho o tamanho sufoco, pois o ar que respiro foi penhorado. A cultura vulgarizada, afinal, apenas adora cifrões e renuncia, sem piedade, a quaisquer rumos mais humanos. O capital, o seu bicho, é aquele seu deus que alinha doutrinas e sustenta o delírio provindo da fingida e patológica crença. Eu, o anormal blasfemo, sofro merecidamente de castigo com os pulmões entulhados de náusea. O capital, por sua vez, de alma febril, vai dançando sobre as ruínas do humano.

Talvez por isso o ar se revele repetidamente denso, imundo de ambição e desespero. O capital é isso, um sopro vital do presente deste mundo que respira morte em atuações suaves. Todavia, a minha náusea vai escapando apenas como sintoma de relutante lucidez. A civilização que ergue a sua alma em números não consegue afundar o meu coração nos escombros. Vou, todavia, embora impaciente, respirando o pó da empatia desaparecida.

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