domingo, outubro 26, 2025

A POLÍTICA À LUZ DO ESPETÁCULO

A política de hoje vive uma mudança comunicativa para o vasto e luminoso espaço dos meios de comunicação. É na televisão e nas redes sociais que a prolongam e amplificam, que se joga também a exposição do poder, a dinâmica da autoridade e até a própria definição do que é “realmente político”.

No entanto, essa migração, que se apresentou como um simples movimento estratégico, revelou-se também uma forma de submissão. Os políticos acreditaram poder dominar o recinto mediático, controlar a arenga pública e impor a sua agenda. Todavia, o que sucedeu foi o inverso, ou seja, foram eles os colonizados. A lógica mediática substituiu a racionalidade política. As imagens rápidas, as frases curtas e as emoções superficiais ocuparam o lugar da reflexão, do debate, da contradição e da memória.

O resultado é uma política reduzida ao desempenho e à execução. Já não se governa a partir de ideias, mas de chavões; já não se debate e argumenta, encena-se o confronto. Já não se pensa o futuro, administra-se o presente com gestos televisivos e estratégias de marketing. O palco político tornou-se estúdio, e o eleitor, mero espectador.

Os velhos modelos orgânicos dos partidos, as hierarquias, as militâncias, as fidelidades ideológicas, entraram em declínio. A autoridade já não brota da estrutura, mas da visibilidade. O carisma mediático substituiu a convicção, e o instante comunicacional tomou o lugar da construção política.

Mas há, neste cenário, um contraponto inesperado. As mesmas tecnologias que fizeram da política espetáculo abriram também espaço para novas formas de organização e mobilização dos cidadãos. Redes, plataformas e movimentos emergem fora dos partidos, criando zonas de resistência e experimentação. São frágeis, por vezes caóticos, mas representam o sinal de uma outra possibilidade, claramente mais partilhada, mais direta, mais viva.

Talvez o desafio contemporâneo consista precisamente em reaprender a expressar-se politicamente num mundo saturado de visibilidades; reaprender a pensar num espaço público dominado pelo ruído. A política só poderá reencontrar o seu sentido se deixar de querer ser espetáculo e voltar a ser significação, ou seja, um gesto de relação, de conflito e de criação comum. 

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