"O simples é o instante em que o
silêncio se torna voz - não fala para ser ouvido, mas para deixar pressentir o
que o silêncio guarda. Entre o que é dito e o que permanece, o simples respira:
é pensamento que se faz aragem, palavra que regressa sempre à sua origem.”
Escrevo estas palavras procurando dar sentido a um gesto
simples, sem presunção, apenas com verdade. A amizade, quando é intensa e profunda,
não precisa de se elevar: é suficiente o silêncio que alcança, o olhar que
acolhe, a presença que em nada obriga.
Assim sendo este texto conciso, surge desse sentimento modesto
de gratidão, pelo tempo partilhado, pelas informais e sinceras conversas, assim
como pelos silêncios que se justificam por si. O simples, para mim, torna-se
isso, ou seja, a forma de afirmar o essencial sem o querer forçar, enquanto
respiração natural do que é humano.
Vivemos um tempo em que o excesso de palavras tende ao
esvaziamento das ideias e dos seus sentidos. Por isso, a simplicidade entre o
silêncio e a fala apresenta-se uma forma de resistência e de verdade. Na
amizade, como na linguagem, o essencial, para mim, não se impõe; revela-se,
sim, discretamente, num gesto, numa palavra breve, num olhar que compreende. A experiência
levou-me a reconhecer o humano nesse território de pertença em que compreendo o
peso existencial do seu ser.
Eis, sim, a possibilidade do poder do gesto e da palavra
encontrarem o sentido da vida, o seu silêncio e a sua simplicidade. Viver o
simples torna-se viver plenamente um instante em que o silêncio se torna voz. Não
por vaidade de dizer, mas por necessidade de partilhar o que o silêncio acolhe.
Entre o que pensamos e o que conseguimos dizer, o simples revela-se. É aí que a
amizade encontra a sua verdade e realidade. Através do gesto sincero, da
palavra breve e do olhar atento.
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