terça-feira, outubro 28, 2025

ESCUTAR O INCONSCIENTE SERÁ POSSÍVEL?

Obrigado Byung – Chul Han

Com o tempo, aprendemos, se disponíveis estivermos para isso. A subjetividade, no seu intrínseco, quando crítica, cuida do nosso espontâneo. Não o controlando, nem o civilizando, mas antes dele nos socorrendo. Sermos exigentes connosco compromete-nos a compreender as vozes que nos atravessam, as que falam antes de nós e, por vezes, contra nós. O inconsciente é esse presente clandestino que nos assiste; e a exigência é o gesto premente que tenta ler, sem violência, o que nele se inscreve.

Cuidar do inconsciente, julgo eu, não é impedi-lo de agir, mas dar-lhe espaço para se apresentar, impedindo, sim, que ele se torne ruído e que a sua linguagem se degrade em pressentimento. Uma subjetividade minuciosa não é aquela que se força a modelos, mas a que nutre o olhar, suporta a incógnita e explora a convicção de que o inconsciente, como o tempo, não se domina: apenas se considera, escutando.

É nesse paciente cuidado que se pode caminhar no percurso dessa ética silenciosa e seletiva. A exigência não é moral, mas uma vigilância poética, minuciosa na atenção ao que se move na sombra. Diria, talvez apressadamente, que uma cultura, ao perder essa exigência, desampara o inconsciente, entregando-o à publicidade, às redes, às manipulações que capturam o desejo e o devolvem em forma de mercadoria. O inconsciente sem cuidado torna-se um espelho partido onde já não se vê, com clareza, o humano.

Por isso, sermos exigentes connosco é um ato político: é recusar a dispersão, a superficialidade e o ruído. É aceitar o trabalho paciente da escuta, do que em nós resiste, do que em nós deseja, do que em nós ainda não encontrou palavra. Só assim o inconsciente pode tornar-se aliado da criação, e não cativeiro da repetição. Cuidar do inconsciente é cuidar do pensamento. E cuidar do pensamento é cuidar do mundo e, com ele, da vida humana. Em síntese, diria que escutar o inconsciente é devolver à subjetividade a sua profundidade perdida.

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