Obrigado Byung –
Chul Han
Com o tempo, aprendemos, se disponíveis estivermos para
isso. A subjetividade, no seu intrínseco, quando crítica, cuida do nosso
espontâneo. Não o controlando, nem o civilizando, mas antes dele nos
socorrendo. Sermos exigentes connosco compromete-nos a compreender as vozes que
nos atravessam, as que falam antes de nós e, por vezes, contra nós. O
inconsciente é esse presente clandestino que nos assiste; e a exigência é o
gesto premente que tenta ler, sem violência, o que nele se inscreve.
Cuidar do inconsciente, julgo eu, não é impedi-lo de agir,
mas dar-lhe espaço para se apresentar, impedindo, sim, que ele se torne ruído e
que a sua linguagem se degrade em pressentimento. Uma subjetividade minuciosa
não é aquela que se força a modelos, mas a que nutre o olhar, suporta a
incógnita e explora a convicção de que o inconsciente, como o tempo, não se
domina: apenas se considera, escutando.
É nesse paciente cuidado que se pode caminhar no percurso
dessa ética silenciosa e seletiva. A exigência não é moral, mas uma vigilância
poética, minuciosa na atenção ao que se move na sombra. Diria, talvez
apressadamente, que uma cultura, ao perder essa exigência, desampara o
inconsciente, entregando-o à publicidade, às redes, às manipulações que
capturam o desejo e o devolvem em forma de mercadoria. O inconsciente sem
cuidado torna-se um espelho partido onde já não se vê, com clareza, o humano.
Por isso, sermos exigentes connosco é um ato político: é
recusar a dispersão, a superficialidade e o ruído. É aceitar o trabalho
paciente da escuta, do que em nós resiste, do que em nós deseja, do que em nós
ainda não encontrou palavra. Só assim o inconsciente pode tornar-se aliado da
criação, e não cativeiro da repetição. Cuidar do inconsciente é cuidar do
pensamento. E cuidar do pensamento é cuidar do mundo e, com ele, da vida
humana. Em síntese, diria que escutar o inconsciente é devolver à subjetividade
a sua profundidade perdida.
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