terça-feira, outubro 14, 2025

O ESPELHO DAS ELEIÇÕES

As eleições refletem não apenas opções políticas, mas também o estado da nossa consciência democrática. Este breve escrito nasce do desalento e da incerteza, interrogando o que ainda subsiste do ideal que um dia tomámos por coletivo.


Nem sempre a democracia cumpre o que promete. O seu valor definha quando se deixa enredar em arengas vãs e manipulações doutrinárias. Fala-se de mudança, mas o sonho democrático vai-se consumindo, reduzido a uma técnica de consenso, onde a divergência se reprime e o pensamento crítico se perde no hábito.

Em nome da estabilidade, o político cede campo ao económico, e o cidadão converte-se em simples consumidor de direitos. A democracia, privada do sopro da sua energia viva - a faculdade de objetar e de transformar -, arrisca tornar-se mera administração do possível.

O seu vazio não é apenas verbal: é também moral e político. Falta-lhe a chama do inconformismo, o gesto ético de dizer não, a coragem de reabrir o espaço da igualdade e da justiça. Por isso, mais do que celebrar o que possuímos, importa recordar o que falta: uma democracia capaz de reencontrar o seu lume inicial - o da esperança, da crítica e da liberdade.

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