UM REGRESSO QUE SE SAÚDA
Texto de 04MARÇO2010
As aprendizagens que se fazem são, obrigatoriamente, coniventes com a sua utilidade, com o sentido que se lhes confere e com o significado que se lhes outorga, no percurso inseparável do crescimento e desenvolvimento das pessoas. Daí, a importância do exercício contextualizado da significação dos saberes, necessidades, interesses e expectativas. Persiste-se, apesar desta constatação, em considerar que o conhecimento se funda na representação de um mundo que é exterior e independente de quem o procura reconhecer.
Relacionar o futuro, a vida e a formação, não é harmonizável seguramente com esta forma de pensar. O ser humano não é, igualmente e em absoluto, marcado pela indiferença e pela passividade. Ele persegue objectivos ou reage a perturbações de desconforto e de desassossego, embora os medos e as inseguranças encubram essa verdade. O homem sente uma necessidade profunda de uma ordem compreensível e, particularmente, afectuosa para o seu mundo vivencial.
É humanamente natural repetir as experiências consideradas agradáveis e evitar outras que originaram apoquentações. Acerca de umas e de outras, reflete-se e desenvolve-se no ser humano um tipo de conhecimento que se lhe adequa e constitui esperança de ajuda para o seu futuro. O conhecimento não institui, nesta linha lógica de raciocínio, uma representação pura do mundo. Envolve projetos de ação, conceitos e pensamentos que lhe são supostamente proveitosos e que, de modo gradual, se alargam num processo integrador de maior complexidade.
A escola não merece ser, como tradicionalmente se decreta, apenas um momento de preparação para a vida. Ela deve ser evidentemente valorizada como um espaço vocacionado para a produção de aprendizagens essenciais sem, contudo, deixar de ser um lugar de vida por excelência. Negligenciar este último aspecto é desvalorizar histórias e testemunhos bem significativos daqueles que nela viveram e dela retiraram coisas boas e outras menos boas, quando não, algumas más ou mesmo irreparáveis. Para a vida e para o futuro, deles e dos outros.
Não há vida sem sentido pelo que se segue ou persegue e pelo que nesse movimento se vai conhecendo e apreendendo. A história reflexiva de uma vida não é um simples relato de um caminho percorrido. Os trilhos de outrora são hoje outros lugares cuja compreensão obriga à difícil, e por vezes dolorosa, conquista ao desconhecimento da significação que ficou por esclarecer. Se assim é, as fontes do sentido e da reflexão não podem ser dispensadas quando se pretende atingir aquela matriz identitária que organiza os interesses, as vontades, as motivações e que, em consequência, anima a ação humana, individual e colectiva.
Emancipar é tornar o caminhar humano mais livre, fazendo concordar as esferas do sentido e da ação, acreditando que não há sentido no mundo, nem tão pouco que o mundo apresenta um sentido que importa procurar ou buscar. O sentido que aqui se defende, subentende uma compreensão feita vontade ou desejo que a linguagem e a razão dos homens multiplica através das palavras, dos seus interesses, valores e projetos.
O sentido não se procura onde se está, mas para onde se pretende ir, não está no que se é hoje, mas no que quer ser no futuro e, sobretudo, não está na realidade que agora se habita, mas no amanhã que se ajuda (ou não) a construir. A relação com o futuro passa, então, por criar renovadas possibilidades para além das virtualidades que a esperança e o optimismo salutarmente transportam. Ação, projeto, vontade e pensamento são, entre outros, elementos que se associam no seu processo de interação e combinação através dos saberes, das competências e dos valores que suportam o seu decurso.
Neste quadro de referências, interessa que o universo das competências não se limite aos domínios técnicos e instrumentais da empregabilidade e da profissionalidade. Deve-se estender esse universo às competências emancipadoras, fundamentalmente às competências sociais e culturais, através do questionamento crítico sobre o que rodeia e domina a vida das pessoas, desocultando os enredos da alienação que as acompanha.
Querer e saber construir futuro passa por uma concepção de escola onde todos se possam sentir mais fortes e mais dignos e onde as correntes de afeição e de fraternidade humanas constituam, entre outros, alicerces primordiais de um reanimado empreendimento na promoção e aperfeiçoamento de um amanhã diferente e melhor para todos. Saúde-se, então, o regresso de centenas de milhares de adultos ao mundo da educação e da formação e que, a verdade e coerência políticas evitem uma decepção histórica irremissível.
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