sábado, maio 05, 2012

A FOLHA BRANCA QUE NÃO ESTÁ EM BRANCO

 

Texto reformulado

Ao longo deste tempo, na qualidade de avaliador externo, tive oportunidade de ler variadíssimas histórias de vida. Percebe-se que se observa o passado com as referências de hoje e com representações diferentes daquelas que, nesse tempo, orientaram as leituras e guiaram as interpretações das vivências que agora se procuram (de novo) situar e (re)significar.

folha de papel homepen

O peso do passado que se impõe, a convenção que sempre dificulta e a memória endurecida por dizer o dito vezes sem conta, tornam-se embaraços às exigências da reflexão que tem por missão reconstruir, uma vez mais, a história do vivido. As pertenças, as particularidades e os pressupostos, nem sempre claros, marcam a subtileza da reinvenção do relato. A última das compreensões não dispensa, no seu deslizar vacilante, os entendimentos que a precederam num processo reconhecidamente penoso pela insatisfação do que, no íntimo, se mostra inquietante e duvidoso.

A historicidade que situa o testemunho e a reflexão que a completa (por correções e aclaramentos) fazem-se (assim) num movimento de leituras e juízos que a narrativa que se conta procura articular suprimindo vazios e discrepâncias que atrapalham a limpidez da história biográfica. E é no preciso momento da escrita que a dificuldade de escrever numa folha de papel que não está em branco, a consciência desperta para a riqueza do que é perplexo, equívoco e maleável.

É esse o instante inevitável da (re)elaboração e da (re)significação que, paradoxalmente, nos apresenta e exibe hoje o que somos ou o que, não sendo, desejamos ou procuramos ser, independentemente das histórias já escritas na folha branca onde escrevemos.

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