segunda-feira, abril 30, 2012

O HOMEM NÃO É, FAZ-SE … E DESDE O COMEÇO

 

A propósito da delinquência e não só…

DelinquenJosé Barata-Moura exprimiu, um dia, no Conselho Nacional de Educação, que o homem não é, faz-se. Ao crer no juízo, direi que qualquer um se inicia nesse fazer desde o começo, esgotando-se nos lugares das suas primeiras falas, risos, lágrimas e birras onde o enlevo e a dor das memórias esculpem muita da rejeição que, dessa história, escapa à lembrança. Dizem os versados que desta memória retalhada e difusa muito acontece e se declara (mais além) no mundo mestiço das pulsões, satisfações e frustrações.

Como ocorrem as ruturas decisórias com o social de jovens malfadados? Como se dissipam destes os sonhos e se desfazem deles as identificações de criança genuinamente imaginados? Que abismo se abre e os levam aos vazios da desistência ou às violências da sobrevivência? E os outros, que ao invés, a demasia lhes forçou os limites na busca de serem (por pedido) o que as frustrações de outros exigiam? Que mundos se representam e se inventam no ventre dessas severas má-sortes ou no coração doente dos narcisismos desgovernados destes últimos?

Fragilizadas e influenciáveis as mentes vacilam, os modelos implodem e a inconstância das referências retira vigor ao apelo natural e orientador que destas se esperam. A busca torna-se assim um caminho farto de sinaléticas suspeitosas. A desorientação sentida e vivida faz do jovem um viajante naufragado na esperança de alcançar o aconchego de um apressado abrigo. A viagem sonhada transmuda-se numa aventura de múltiplos rumos sem destinação. Entre aqueles rumos e a desejável destinação colocam-se fatalmente distâncias codificadas dificilmente transponíveis.

A desavença assim experienciada contagia relações (com os outros e com o mundo) que, nas suas múltiplas versões, se manifesta mais tarde em disfunções (diversas e dispersas) ante um social que, no fundamental, não acertou ou (pior ainda) renunciou às suas obrigações. E muito verosimilmente desde o seu começo. Citando, o ex-Reitor importa reiterar que, sob o ponto de vista deontológico, a educação é um processo relacional, continuado e aberto, ou seja, um processo de dar forma à condição do nosso viver. Este enunciado, em toda a sua grandeza e exigência, revela responsabilidades não assumidas por quem devia e, sobretudo, o modo irreflexo como elas são sacudidas para outros, senão quando para os próprios padecedores.

 

Imagem retirada daqui

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