sábado, janeiro 14, 2023

O MANO NARCISO

No começo, as públicas maneiras de Marcelo, animadas e desembaraçadas, adocicaram a minha precipitada empatia com um eu de um outro que, afinal, não é o Marcelo, mas sim o seu mano Narciso. Sim, é a recreativa sumidade deste que o leva deleitar-se e a arrebatar-se com os fogosos povaréus que teimosamente o assediam e asfixiam. À vista disso, é o mano Narciso, e não o sóbrio Marcelo, como se testemunha pela animada comunhão de beijocas salivantes, afagos aromáticos e proximidades descaradas. Aliás, pela badalada e reconhecida insuficiência narcísica de Marcelo, ele só pode ser um outro manifestamente oposto ao mano Narciso. Marcelo, creio eu, encolerizar-se-ia na presença de um repetido e alvar riso de um qualquer e indistinto espelho popular. Quem apadrinharia, então, essa ousada ideia que Marcelo e Narciso seriam irmãos, ainda por cima gémeos? Ninguém, ou talvez apenas uns poucos acreditariam naquele outro que se faz dois em um, em um outro que, afinal, se prestaria à carnavalesca e burlesca calha. Que deus nos acuda se puder e se para aí estiver virado.

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