O processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC) iniciou-se em 2012 num contexto social e laboral significativamente diferente do atual, reportando em particular à taxa de desemprego de cerca 5% da altura em confronto com a sua análoga recente que se cifra hoje num valor superior a 15%. Ao convocar o olhar para estes dados pretende-se cotejar realidades e, dessa acareação, tornar mais claro o interesse que as perceções das condições de mercado apresentam enquanto fator condicionante de projetos que, pelo facto de o serem, presumem uma óbvia antecipação incessantemente idealizada.
Sempre considerei (e expresso-o aqui de um modo conscientemente simplificado) que o mérito maior do RVCC não se encerra na certificação em si mas nas múltiplas e diversas agitações que a experiência formadora (inerente ao processo) poderia (e deveria) germinar, designadamente tendo em conta a curta escolaridade da generalidade dos adultos e tudo quanto nesta condição, por conformação, se foi naturalmente incorporando. Se de início assim concebia o RVCC, ao fim destes dez anos de contacto intenso com o dispositivo, as pessoas e as suas realidades e anseios, sem receio de qualquer tipo de imprecaução, não posso deixar de ratificar (hoje) como certo esse meu pressentimento inaugural.
O adulto termina o RVCC sentindo-se com frequência (e manifestando-o por vezes de modo extasiado) uma pessoa diferente daquela que havia entrado. Em abono da verdade, outra coisa não seria de esperar, tendo mesmo em conta que muitos o iniciaram apenas com o manifesto propósito da certificação. Todavia, esclareça-se desde já que esta constatação não retira qualquer legitimidade ao intento, bem pelo contrário pelo que a seguir se procura atestar. Assim, e no desenvolvimento desta confirmação, direi que conhecer o que leva o adulto (após o processo) de diferente consigo é que interessa indagar e aclarar pela sua relevância futura. No entanto, cedendo esta empreitada para outros fôlegos, ousaria afirmar a suspeita de que as fronteiras da ambição dos adultos se foram estendendo gradativamente na justa proporção das descobertas de si que em si habitavam adormecidas e desacreditadas.
Percursos, representações, projetos e investimentos no domínio da formação, compõem um entrelaçado de aspetos que, na sua conjugação gradualmente idealizada, arquitetam as realidades nas quais se inscrevem os rumos possíveis de intensas buscas educativas ou (tão-só) de diligências formativas mais ou menos urgentes. Assim sendo, é na elasticidade deste amplo quadro de expectativas e de possibilidades que se fazem então as motivações, se praticam as atitudes de conquista da obra formativa, se individualiza a perceção da utilidade das suas dinâmicas e se refina a consciência dos recursos para o conseguir. Fazer da formatividade uma estratégia obriga a um instituir que, não desobrigando as referências do passado, as revigora nos horizontes que se futuram. Daí, as mediações, os possíveis e, sobretudo, a importância da bondade das primeiras e da inspiração imprescindível dos últimos.
Chegar ao processo apoucado pela situação de desemprego e ter como horizonte a mesmidade acrescenta às dificuldades congénitas mas desafiantes do processo uma lassidão que atrapalha e perturba o entrelaçamento anteriormente referido. Tudo aparenta menos entusiasmante e, mormente, muito mais desengraçado ao viver-se nessa fronteira que soma angústia a uma esperança tristemente abalada. A racionalidade estreita-se e com ela a energia da reinvenção enfraquece. O peso do passado endurece identidades e sitia os adquiridos, sejam eles feitos de hábitos ou de convicções. O adulto, reconhecendo-se delimitado, escusa a alegria da liberdade no exercício de uma reflexividade que ele sente historicamente marcada e condicionada pela cruciante verdade alcunhada de “falta de emprego”. Pois é. Como se diz nestas circunstâncias, não basta estar numa praia edénica fazendo férias; importa andar animado e apreciar lá estar. Admitindo as diferenças, tanto faz na praia como no RVCC.
Imagem retirada daqui
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