Vivemos tempos receosos. Tempos em que a liberdade se tornou tema de conversas domesticadas, domesticadas por um moralismo institucional que a reduz a uma simples retórica funcional. Os grandes poderes, cansados, repetitivos, e enfadados de si próprios, continuam a resistir, em nome do bem, do dever, da ordem. Mas esquecem-se da liberdade.
Não falo daquela liberdade que apregoam. Falo da outra, da
que ocultam. Daquela que mantêm acantonada, silenciada, sob a forma de uma
moral cuidadosamente calibrada. Uma moral que se veste de virtude, mas que não liberta.
Sejamos claros: o problema não está na moral. Está no uso
que dela se faz, como expediente, como instrumento. Quando o dever é imposto,
quando o juízo é substituído pela obediência, quando o certo e o errado são
ditados por quem detém o poder, não estamos perante uma exigência ética, mas
diante de uma sujeição disfarçada.
A moral dominante não emancipa: disciplina. E uma liberdade
obediente, por mais bem-intencionada que pareça, é uma liberdade que se trai a
si mesma. A liberdade verdadeira, a que resiste, a que nos transforma, não é
aquela que o poder nos concede. É a que conquistamos ao reagir à sua sujeição. Uma
liberdade exigente, enraizada na nossa história e, sobretudo, na nossa
responsabilidade.